Vamos combinar? Copa é exagero. Torcidas abusam. Além de bandeiras, camisetas e bonés, pintam cabelos, sobrancelhas e bigodes de verde-amarelo. O comércio fecha. Padarias, lojas, supermercados, bancas de revistas firmam pacto com o freguês. Eles não abrem as portas. O cliente não os procura. A turma da imprensa não fica atrás. Para manter a atenção do leitor, ouvinte ou telespectador, exagera. Qualquer palavra, qualquer gesto, qualquer murmúrio de jogadores ou do técnico viram crônica.
O valor afetivo dos vocábulos entra em cartaz. As palavras deixam de ser empregadas com a significação real. Passam a ter a marca do sentimento. Em bom português: o sentido abre alas para a sensibilidade. A descarga de paixão se dá com mais força nos sufixos. Os Kakás da vida não jogam bola. Jogam um bolão. Não fazem gol. Fazem golaço. A partida, mesmo raquítica, vira partidaço. O gol ganha fôlego de baleia. É goooooooooooooooooooooooooooooooooooooolaço. Amor e ódio
A vedete das vedetes do exagero é o sufixo -aço. As três letrinhas transmitem ideia de grandeza e intensidade. Além do furor na Copa, aparecem no dia a dia de pequeninos e grandões. A mulher pode medir 1,5m. Mas o apaixonado a considera um mulheraço. A criatura pode não ter uma conta bancária polpuda. Mas cobiçosos a chamam de ricaço. A pancada pode ter sido branda. Mas o mais-mais a classifica de coronhaço.
E assim, de sufixo em sufixo, de aço em aço, a descarga das paixões ganha mundo. Com eles, manifestam-se os dois sentimentos que agitam a alma. No fundo, no fundo, os diabinhos se resumem a dois. De um lado, o amor. De outro, a aversão. Paizinho e mãezinha, paizão e mãezona não querem dizer pais pequenos ou pais grandes. Mas pais muito queridos.