Gol contra

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Em dia de festa, o Palmeiras apanhou. Levou dois gols do Sport. Não fez nenhum. “O que aconteceu?”, perguntavam gregos, troianos e torcidas atônitas. A resposta não estava no gramado. Estava na língua. “O bom filho à casa torna”, diz frase que figura na camiseta do time.

Com ela, os dirigentes da equipe paulista miravam um gol de placa — homenagear a volta do Verdão ao velho estádio novo. Mas pisaram na bola. Puseram crase onde crase não há. Esqueceram-se (ou nunca aprenderam) que o acento grave indica o casamento de dois aa. Um deles é a preposição. O outro, quase sempre, o artigo definido.

O xis da confusão: a palavra casa. Jogo de mata-mata, a dissílaba exige atenção plena. Se falamos da nossa casa, o artigo não tem vez. (Saiu de casa. Voltou para casa.) Sem o pequenino, o uso do acento da crase é impedimento certo: Depois da partida, o goleiro se dirigiu a casa sem demora. O bom filho a casa torna.

Se for a casa dos outros, o jogo vira. O artigo entra em campo (a casa dos pais, saiu da casa dos amigos). Aí, escala-se a crase: Depois da partida, o goleiro se dirigiu à casa dos amigos. O bom filho à casa dos pais torna. Foi à casa do adversário.

Moral do placar: A história de bola cheia virou história de bola murcha. O que fazer? Cartaz, meio sem graça, se esforçou pra apagar o fiasco. Com texto nota 10, fez bonito com a mensagem: “Bem-vindo a casa, Palmeiras”.   Bola no pé

Há um acento indicador de crase solto no campo. Onde colocá-lo? Você decide. Olho na palavra casa:

a. José voltou a casa depois de meses de ausência. b. Quando retorna a casa, Neymar desliga o celular. c. Os católicos dizem que bons filhos a casa voltam sempre. d. Será que todos retornaremos a casa do Pai?   Bola na rede

Escolheu a letra d? Gol de placa. Casa, nas demais opções, se refere à casa onde a pessoa mora. Aí, não tem artigo. Sem artigo, frustra-se o casamento de dois a. Um azinho, solitário, pode fazer verão. Mas não admite crase.