Gol contra

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Aldo Rebelo dava entrevista ao Bom-dia, Brasil. Era segunda-feira, dia internacional da preguiça. Voz pausada, devagar quase parando, o ministro falava. Fazia o jogo do tudo-bem. Perguntas explosivas estavam na pauta. Uma delas: a liberação de bebida alcoólica nos estádios. No Brasil, cervejinhas & cia. exibem tarja preta. Não entram. É lei.

Ops! A Budweiser patrocina a Copa. Quer a contrapartida. E daí? “Mude-se a lei’, decidiram os cartolas. Houve reações furiosas. Com razão. O álcool estimula violência. De saia justa, o ministro usou tom conciliador. Disse que a Copa é evento particular. Sem convencer, pisou a bola: “O Brasil, como os outros países, assumiram compromisso com os organizadores”.

Pisada de bola

Telespectadores ficaram com a pulga atrás da orelha. Sua Excelência, tão cuidadoso com as palavras, atropelou a concordância. Por que será? Palpites proliferam. Enquanto a resposta não vem, vale rever a liçãozinha que aprendemos lá longe, na escola primária.

Trata-se da concordância verbal. A regra: aonde o sujeito vai, o verbo vai atrás. Em bom português: o verbo concorda em número (singular e plural) e pessoa (1ª, 2ª e 3ª) com o sujeito. Assim: eu falo, tu falas, ele fala, nós falamos, vós falais, eles falam.

Uma enrascada

Moleza? Sem dúvida. Os tropeços começam quando o sujeito troca de posição. Em vez de aparecer antes do verbo, o danadinho pinta lá atrás. A regra não muda. O que muda é nossa atenção. Aparecem, então, orações como “basta dois livros”. Se o mandachuva estivesse no lugarzinho dele, manteríamos a nota 10: Dois livros bastam. Bastam dois livros.

Outra enrascada

Sujeito composto também dá dores e dores de cabeça. Na concordância normal, a existência de dois ou mais mandachuvas leva o verbo para o plural: O jogador Adriano e o goleiro Bruno estão nas manchetes do dia. Estão nas manchetes do dia o jogador Adriano e o goleiro Bruno.

Como a língua é coisa de gente, e gente gosta de variar (e contrariar), existem concessões. Uma delas: quando o sujeito composto vem depois do verbo, além de concordar com todos os mandões, o verbo pode concordar com o mais próximo. Deste jeitinho: Está nas manchetes do dia o jogador Adriano e o goleiro Bruno.

Superdica: deixe essa concordância pra lá. Fique com a primeira.

A enrascada do Aldo

Disse o ministro: “O Brasil, como os outros países, assumiram compromisso com os organizadores”. Viu? O período tem duas orações:

1. O Brasil assumiu compromisso com os organizadores. 2. Os outros países (assumiram compromisso com os organizadores)

Ao juntar as duas, pode-se mudar a ordem. Mas o sujeito da primeira se mantém. O verbo concorda com ele sem pestanejar: O Brasil assumiu compromisso com os organizadores como os outros países. Como os outros países, o Brasil assumiu compromisso com os organizadores. O Brasil, como os outros países, assumiu compromisso com os organizadores.

Ufa!