Frasecídio

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“A verdade tem dois lados”, ensinou Pitágoras. Com razão. A vírgula contribui para dar vida a texto claro, correto e cheio de nuanças. Mas pode matar. O frasecídio ocorre quando o sinalzinho:
 
1. Separa o sujeito do verbo. O atentado equivale a isolar a cabeça do corpo. Com uma parte cá e outra lá, a pobre criatura dá adeus à vida. Na língua ocorre algo semelhante. Sujeito de um lado e predicado de outro significa velório na certa. Erro grave, revela falta de domínio lingüístico do redator.
 
Como evitá-lo? Só há uma saída — localizar o sujeito. O perigo maior reside na inversão e na distância. Se a oração estiver na ordem inversa ou o sujeito estiver longe do verbo, a cilada está armada. Dobre a atenção: Receberam pancadas da polícia (predicado) os estudantes que ocuparam a Reitoria da UnB. É a grande atração das eleições americanas deste ano (predicado) a disputa entre um negro e uma mulher.
 
2. separar o verbo do complemento. É, pois, proibido intrometer uma vírgula entre o verbo e o objeto: A Comissão Disciplinar da CBF aplicou (verbo) a pena de quatro jogos e mais 30 dias de suspensão (objeto direto) ao jogador que chutou o colega em campo (objeto indireto).
 
É isso. Ferreira Gullar disse que a crase não foi feita pra humilhar ninguém. José Cândido de Carvalho completou: “A vírgula também não”.