Frasecídio

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Frasecídio
 
A palavra vírgula vem de longe. Nasceu no latim. Lá, queria dizer varinha. Também significava pequeno traço ou linha. Depois, virou sinal de pontuação. Indica pausa rápida, menor que o ponto.
 
A mocinha atravessou os séculos. No caminho, suscitou discussões. Alguns afirmam que seu emprego é questão de gosto. A gente põe o sinalzinho onde tem vontade. Outros dizem que basta ler a frase. Parou pra respirar? Pronto. Taca-lhe a vírgula. Aí surge um problema. Como os gagos e os asmáticos vão se virar?
 
Outros, ainda, acham que devem usar todas as vírgulas a que têm direito – as obrigatórias e as facultativas. É o caso do amanuense Borjalino Ferraz. O homem estudou o assunto anos a fio. Aprendeu tudo. Esnobava o saber em ofícios e memorandos. Não deixava passar uma. O chefe reclamou do exagero. “Desse jeito”, disse ele, “o amigo acaba com o estoque. O município não tem dinheiro pra comprar vírgulas novas”.
 
Por fim, existem os assassinos. Frasecidas, eles matam a oração. Como? Separam o sujeito do verbo. É o caso do autor do período que aparece no outdoor. “Quem faz Leonardo da Vinci” é o sujeito. “Emplaca”, predicado. A vírgula separou a cabeça do corpo. Vai pro xilindró.