Falar em público não é nenhum bicho-papão

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Mensagem

Políticos jovens estão arrancando os cabelos. Marinheiros de primeira viagem, morrem de medo de falar em público. Mas a campanha está nas ruas. Se não se virarem, os votos batem asas e voam. O que fazer? Sem dinheiro pra pagar fonoaudiólogos e marqueteiros, muitos pediram ajuda à coluna. Sabem que, na corrida eleitoral — e na vida —, falar para grandes plateias é condição indispensável.

Mas eles estremecem só de imaginar a hipótese de abrir a boca diante de estranhos. Dizem que não nasceram para os refletores. Enganam-se. A ciência prova o contrário. Falar bem não é dom divino. Falar bem — como nadar bem, saltar bem, escrever bem, ler bem — é habilidade. Exige treino.

Os profissionais da palavra — professores, políticos, consultores, apresentadores de programas de tevê — aprenderam há muito a “conversar” com o público. Desenvolveram habilidades corporais e linguísticas capazes de torná-los bons comunicadores. Vamos a elas?  

Regra soberana

Seja natural. Seja você mesmo. Não tente imitar Jô Soares, Sílvio Santos ou Faustão. Você fala porque tem algo a dizer. E há um público que quer ouvir você. Se quisesse ouvir outro, o outro seria convidado. Em suma: fique à vontade.  

O corpo comunica

Nós falamos com as palavras e o corpo. O gesto, o olhar, o movimento transmitem mensagens. Pesquisas revelam o peso de cada componente: Palavra: 7% Inflexão da voz, pronúncia, emoção: 38% Gesto, movimento, dinâmica, traje, expressão fisionômica: 55%  

Habilidades 

1. Mantenha o plexo solar à mostra. Ele emite energia para o grupo. Exiba-o vaidosamente. Como? Encaixe a cintura pélvica. Apoie os dois pés no chão e jogue os ombros pra trás.

2. Respire com o plexo solar. Deixe o ar chegar lá embaixo. Pratique. Deite-se com um livro sobre a barriga. Preste atenção ao vaivém do ar.

3. Olhe para o público. O alimento do orador é o olhar. Você fala com gente de carne e osso. Olhe nos olhos dos ouvintes. Não eleja só um ou dois. Mire todos. Eles retribuirão. Ops! Não olhe para o chão, o teto ou um ponto neutro. Se cair nessa esparrela, você desqualifica a plateia.

5. Fale com voz pausada. Nem tão rápido. Nem tão lento. A sabedoria está no meio.

6. Cuide da voz. Uma voz clara, harmoniosa e sedutora não cai do céu nem salta do inferno. É conquista. Há exercícios simples que ajudam. E como!  

Truques para a voz

1. Fale ou cante com o lápis na boca.

2. Pratique o trava-línguas. Eis quatro exercícios:

A aranha arranha o jarro. O jarro arranha a aranha.

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O céu está enladrilhado. Oh! Quem o enladrilhou? O mestre que o desenladrilhar/ Bom desenladrilhador será.

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Se o papa papasse papa / Se o papa papasse pão / O papa não seria papa / O papa seria papão.

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O otorrinolaringologista / O otorrinolaringologando / A otorrinolaringologia.

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3. Dê colorido à voz. Xô, monotonia! Como? Cante um verso e fale outro:

Se esta rua, se esta rua fosse minha (cante) Eu mandava, eu mandava ladrilhar (fale) Com pedrinhas, com pedrinhas de brilhante (cante) Para o meu, para o meu amor passar (fale)

4. Descanse a voz. Uma dica: com os lábios, faça como os bebês — brrrrrrrrrrrrrrrrrrrrr. Outra dica: vibre a língua no céu da boca.  

Dica

Até grandes atores tremem ao entrar no palco. É o caso de Liza Minelli, Fernanda Montenegro, Maria Bethânia e tantos outros. Escritores consagrados não ficam atrás. Graciliano dizia que um grande autor se conhece não pelo que escreve, mas pelo que joga no lixo. E você? Seja qual for sua profissão, há sempre um momento em que terá de pegar o boi pelos chifres. Nas organizações modernas, exige-se cada vez mais a manifestação oral. Esteja preparado para o desafio. Treine.