Picar a mula
Márcio Cotrim
As mulas são produto do cruzamento de burro com égua. Inteligentes, possuem boa audição e sentido do tato bem desenvolvido, principalmente nos cascos, tanto que se mostram imbatíveis em terrenos pedregosos, acidentados ou íngremes.
Mas também são teimosas, daí o berço razão do ditado teimoso como uma mula. É difícil domá-las, razão pela qual o uso das esporas se torna indispensável. Instrumentos de metal na forma de um arco do qual sai uma haste terminada em roseta, com elas o cavaleiro incita o cavalo a andar. Seu uso é muito antigo e se supõe que foram usadas mesmo antes dos estribos.
Também antigo é o costume de dar um nó na cauda desses muares, desde quando eles eram utilizados como principal meio de transporte em longas viagens. O motivo: com o rabo amarrado, o animal não sujava o cavaleiro após passar por terrenos alagadiços e com lama.
A expressão picar a mula para induzir o animal a andar é compreensível, mas traduz cruel procedimento, já que é forma dolorosa de estimular, no bicho, sua caminhada.
É de uso comum, também, para designar a exortação de partida de determinado local, a hora de ir embora. Picar tem seu berço no latim piccare, golpear vivamente, furar com objeto pontiagudo ou perfurante. Com o tempo, a expressão passou a abranger as situações que signifiquem ir embora com pressa – mesmo com a ausência da própria mula. É o momento decisivo, por exemplo, de um assalto em que os meliantes se escafedem ou vão parar no xilindró. Os Irmãos Metralha, impagável criação nos quadrinhos da Disney, passam a vida picando a mula, para delícia da legião de leitores de suas aventuras. . .