Palavras compostas como matéria-prima, obra-prima e mão-de-obra continuam ou não com hífen? (Wlyana Reis Praça)
A reforma ortográfica respeitou as duplinhas. Arco-íris, beija-flor, guarda-roupa, porta-retrato, matéria-prima, obra-prima conservam o tracinho.
Exceção? Há poucas. Paraquedas, paraquedista e paraquedismo agora se escrevem coladinhas da silva. As demais composições começadas com para mantêm o tracinho (para-choque, para-lamas, para-brisas). Também perderam o hífen tão só, tao somente e à toa.
Mão de obra joga em outro time. O hífen deu adeus aos compostos por justaposição com o termo de ligação. São, em geral, três palavras que, soltas, nada têm que ver umas com as outras. Mas, juntas, formam um terceiro vocábulo. É o caso de pé de moleque. Pé designa parte do corpo. Moleque, menino sapeca. A preposição de os junta. O trio dá nome ao doce que não pode faltar nas festas juninas.
Exemplos de criaturas desamparadas não faltam. Eis alguns: mão de obra; dia a dia; dor de cotovelo; folha de flandres; faz de conta; quarto e sala; maria vai com as outras; joão sem braço; mula sem cabeça; bicho de sete cabeças.
Ops! Cuidado com a precipitação. O adeus não atinge todas as palavras assim compostas. Dois grupos escaparam. O primeiro entra no time das exceções. Água-de-colônia, arco-da-velha, cor-de-rosa, pé-de-meia, mais-que-perfeito mantêm o hífen. O segundo se refere aos compostos que designam animais ou plantas: cana-de-açúcar, ipê-do-cerrado; joão-de-barro; bem-te-vi; bem-me-quer; porco-da-índia; canário-da-terra, castanha-do-pará. E por aí vai.