Estudantes perguntam

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Quando usar que e quê? (Henrique de Matos Patu, 17 anos)   Henrique, acento tem tudo a ver com pronúncia. Agudo e circunflexo só caem sobre a sílaba tônica. Em dissílabos, trissílabos e polissílabos, descobrir a mais forte é fácil como arrancar promessa de político. É com os monossílabos que a porca torce o rabo. Os pequeninos obedecem à mesma regra das oxítonas. Acentuam-se os terminados em a, e e o, seguidos ou não de s. Compare: sofá (já), estás (dás), você (dê), vocês (dês), cipó (dó).

Alguns dão nó em fumaça. É o caso do quê. As três letrinhas mudam de time como modelo troca de roupa. Ora são conjunção. Ora pronome. Ora substantivo. A primeira equipe não oferece problema. O trio se apresenta sempre com a mesma cara. Veja: Disse que sairia mais cedo. Entre, que vem chuva braba.

As outras provocam dor de cabeça. Por duas razões. De um lado, elas têm o poder da mobilidade. Saltam daqui para ali como macaco salta de galho. De outro, variam de classe gramatical. Passam de pronome a substantivo com facilidade. Elas fazem as artes. Nós pagamos o pato. O preço dessas mudanças é o acento. Quando usá-lo? Em duas oportunidades:

1. Quando o quê for substantivo. Aí será antecedido de pronome, artigo ou numeral. Como todo nome, tem plural: Giselle tem um quê de sedutor. Qual o mistério dos quês? Corte os quês da redação. Belo quê você introduziu no discurso. Quem mandou?

2. Quando o quê for a última palavra da frase – a última mesmo, coladinha no ponto: Trabalhar pra quê? Riu, mas não disse por quê. Você se atrasou por quê? Ele se ofendeu com quê?

É isso. Desvendados os dois empregos, o quê recolhe-se à própria insignificância. Redatores que arrancam os cabelos por causa do acentinho chegam à conclusão óbvia: não há por que temer o quê.     Bem-vindo se escreve junto ou separado, com ou sem hífen? (Igor Campos, 13 anos)

Hífen é castigo de Deus. Existem regras. Mas são tantas as exceções que só há uma saída. É consultar o dicionário. O pai de todos nós diz que bem-vindo se escreve assim — um lá e outro cá.  

Sempre me confundo com trás e traz. Como fazer para não errar de novo? (Luísa Schneider, 18 anos)

Luísa, diante da dúvida, pergunte-se: a palavra é verbo ou não? Se for verbo, trata-se do verbo fazer. Fazer se escreve com z. Todas as formas dele derivadas em que soa o z se grafam com a mesma letra (traz, trazemos, trazem). Não é verbo? Então dê passagem ao s: Vi Paulo por trás das cortinas. Andou para trás.  

Por que viajar se escreve com j e viagem com g? Tenho problemas com a troca dessas letras na hora de escrever. (Ana Luísa de Melo Monteiro, 13 anos)

Olho vivo, Ana Luísa. Viajar tem j no radical. Seguido de qualquer vogal, o j mantém o som. Por isso, viajar se conjuga sempre com j: eu viajo, ele viaja, nós viajamos, eles viajam; que eu viaje, ele viaje, nós viajemos, eles viajem.

Apesar da lógica, a forma viajem (que eles viajem) sofre agressões impiedosas. Muitos, mas muitos mesmo, escrevem-na com g. Tropeçam. Viagem é substantivo. O nome não tem nada a ver com o verbo. Um pertence a uma classe. O outro, a outra: agência de viagem; viagem ao Rio; preparativos para a viagem.

Bateu a dúvida? Banque o esperto. Recorra a macete pra lá de conhecido. Ponha a palavra no plural. Se ela joga na equipe de homens e jovens, não duvide. Você está às voltas com o substantivo. Veja: Eles querem pôr o pé na estrada? Que ponham. Viajem e façam boa viagem. (Viajem e façam boas viagens.)