Estudantes perguntam

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Qual a diferença entre semântica e morfologia? (Carlos Eduardo Miranda)

A semântica, Carlos, trata do significado da palavra. Preocupa-se com o que o vocábulo quer dizer na frase. Na dúvida, a gente consulta o dicionário. A morfologia joga em outro time. Refere-se às classes gramaticais. Diz se a palavra é substantivo, verbo, adjetivo, pronome, preposição, conjunção, interjeição etc. e tal. Mais: estuda o número (singular, plural), o gênero (feminino, masculino), a conjugação verbal, a flexão do nome.

Em alguns textos, vi a expressão bom-dia (escrita com hífen). É correto? (Matheo Araoz)

Bom-dia, boa-tarde, boa-noite são os cumprimentos. Escrevem-se com o tracinho. No mais, adjetivo e substantivo vêm soltos, sem lenço nem documento: — Bom-dia, Rafael. Que você tenha um bom dia.

Você não é eu ou você não sou eu? (Marcelo Silva Santana)

Você não é eu, Marcelo. Você é você. Eu sou eu.

A forma correta é entrar de férias ou entrar em férias? (Luciana Melara)

Tanto faz. Você pode entrar de férias ou entrar em férias. Uma e outra forma dão um recado claro: descanse.

Qual é a diferença entre ortoépia e prosódia? (Rafael da Escóssia Lima)

Ortoépia e prosódia são sinônimas. Ambas tratam da pronúncia correta das palavras. O s de subsídio, ensinam as duas, soa como o de subsolo. Rubrica é paroxítona como fabrica. Recorde joga no time de concorde. A sílaba tônica é cor.

Sempre me confundo com conotação e denotação. O que é cada uma? (Alexandre Fuckner)

Denotação é o sentido próprio da palavra. Ao consultar o dicionário, o primeiro significado é o denotativo. Conotação dá nome ao sentido figurado. Compare o emprego de fogo em dois contextos:

Sentido denotativo: O fogo queimou duas casas antes da chegada dos bombeiros. Sentido conotativo: “Amor é fogo que arde sem se ver” (Luís de Camões)

Qual a diferença entre os porquês? (Samille Paiva)

Samile, há dois empregos pra lá de conhecidos. Gente de casa, quase todo mundo os domina. Na época em que a escola ensinava e o aluno aprendia, a meninada os decorava sem grandes problemas. Mas há dois que dão nó nos miolos. Vamos lá.

Por que, por quê

Na pergunta, o parzinho é separado. Se o quê estiver no fim da frase, no fim mesmo, encostado no ponto, leva circunflexo. Caso contrário, vem soltinho da silva:

Paulo, por que você chegou atrasado?

Paulo, você chegou atrasado por quê?

Maria, você é sempre tão atenta, anda distraída. Por que será?

Maria, você sempre tão atenta, anda distraída. Por quê?

Porque

A resposta à questão é fácil como tirar pirulito de bebê. O parzinho vem colado. É a conjunção causal:

Paulo chegou atrasado porque acordou tarde.

Maria anda distraída porque está apaixonada.

Porquê

O porquê – juntinho e enchapelado – joga no time dos substantivos. É sinônimo de causa, razão, motivo. Ele apresenta duas marcas. Uma: tem plural. A outra: vem acompanhado de artigo, numeral ou pronome. Quer ver?

Agora entendo o porquê dos porquês.

Eis o porquê da distração de Maria.

Esse porquê poucos entendem.

O primeiro porquê é mais fácil que o segundo.

Por que e por quê (de novo)

Esse porquê parece repeteco do primeiro. Parece, mas não é. Ele ganhou destaque porque representa um senhor perigo. Gente muito boa tropeça nele e cai como patinho ingênuo que nada no lago. O que fazer? Dar um jeito. Entender-lhe as manhas.

O porquê separado sem estar em pergunta é construção preguiçosa. Aparece pela metade. Sem muita disposição para o batente, deixa subentendidos os substantivos a razão, a causa, o motivo:

Gostaria de saber (a razão) por que Dilma demitiu o ministro dos Transportes.

É possível me dizer (o motivo) por que Maria anda distraída.

Ainda não sabemos (as causas) por que o real se valorizou.


Viu? Antes do porquê está escondidinho um substantivo. Ele não aparece. Mas conta. É que a língua, engenhosa, o omite. Os distraídos caem na armadilha. Os sabidos têm um macete. Sempre que o porquê for substituível por a razão pela qual, não duvidam. É um lá e outro cá. Se estiver no fim da linha, colado no ponto, ganha chapéu:

Não entendi por que (a razão pela qual) o real se valorizou.

O ministro tentou, mas não conseguiu explicar por que (a razão pela qual) o real se valorizou.

Este é o melhor filme do ano. Vá ao cinema e descubra por quê (a razão pela qual).


Viu? Descobrir o porquê dos quês e porquês não é nenhum bicho de sete cabeças. Basta aprender por que uns se escrevem juntinhos; outros, separados. E abrir os olhos para as manhas dos acentos. Os chapeuzinhos têm seu porquê.