O maestro Jorge Antunes está subindo nas paredes. No desespero, arranca os poucos cabelos que lhe restam. Tudo por causa de uma concordância. Ele escreveu artigo que começava assim: “No Rio de Janeiro dos anos 50 e 60, os estudantes de música estávamos à espera das temporadas populares do Teatro Municipal”. Publicado, não deu outra. A sentença mudou de cara: “Os estudantes de música estavam à espera das temporadas populares”.
“Não é a primeira vez que fazem essa maldade comigo”, reclama. “Por isso, pergunto: cassaram a silepse?”
Não, maestro. A mocinha está vivinha da silva. A silepse é a concordância ideológica. Com ela, o rigor da gramática vai pras cucuias. Tem vez a ideia.
Na frase do maestro, o sujeito é os estudantes. A gramática manda o verbo para a 3a pessoa do plural (estavam). Mas a silepse autoriza outra construção. Ora, o maestro se incluiu entre os estudantes. É como se tivesse dito: Nós, os estudantes, estávamos…
Veja outros exemplos: Os brasileiros somos patriotas. Os três que escapamos seguimos para casa. Os cariocas damos show de samba.