“Temos de nos fraternizarmos”, disse Michel Temer no discurso da vitória. Ops! O plenário se calou. Os ouvintes do rádio arregalaram os olhos. Os telespectadores da TV abriram a boca e aberta ela ficou. O estado de choque se explica. Sua Excelência caiu na cilada da supercorreção. Esqueceu-se de que as locuções verbais são iguaizinhas às pessoas. Entre os componentes, há os batalhadores e os preguiçosos.
Nas locuções, só o verbo auxiliar se flexiona. O principal fica no bem-bom. Mantém-se no infinitivo: vou estudar, vai estudar, vamos estudar, vão estudar; posso correr, pode correr, podemos correr, podem correr; poderia sair, poderias sair, poderemos sair, poderão sair; consegui viajar, conseguiu viajar, conseguimos viajar, conseguiram viajar; tenho de ler, tem de ler, temos de ler, têm de ler.
O que fez Sua Excelência no calor do entusiasmo? Ao dizer “temos de nos confraternizarmos”, flexionou os dois verbos. Ele teria recebido aplausos se tivesse se lembrado de pormenor pra lá de sabido. Confraternizar quer que o mundo acabe em barranco pra morrer encostado. Então, teria dito: Temos de nos fraternizar.