Está na cara? Não. Está nas palavras

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 A lingüística lida com a língua. A língua, com as palavras. As palavras constroem e destroem mundos. Com elas, a gente faz amigos. Disputa emprego. Ganha eleição. Conquista o amado. Ou, ao contrário, cria inimigos. Perde cargos. Manda o sonho do amor eterno pro beleléu. Perpetua preconceitos. Congela discriminações.
 
Negro serve de exemplo. Pra designar a raça, não pense em preto, crioulo, escurinho, moreno, de cor. Fique com negro: Zezé Mota é negra. A novela A Muralha precisou de um elenco de atores negros. Os negros vieram para o Brasil como escravos. A base étnica da população brasileira é formada por índios, brancos e negros.
 
Fuja da tentação. Não recorra a negro para qualificar fatos desagradáveis. Deixe a preguiça pra lá. Vire-se. Encontre o vocábulo politicamente correto. Eis uma ajudinha: lista de devedores ou lista de traficantes em lugar de lista negra; câmbio paralelo em vez de câmbio negro; a situação está difícil, ruim ou preocupante em lugar de a situação está negra; mancha preta por mancha negra. E por aí vai.
 
“Dize-me com quem andas que eu te direi quem és”, afirmam uns. “Dize-me o que comes que te direi quem és”, declaram outros. “Dize-me as palavras que usas que te direi quem és”, garantem mais uns. Elas denunciam o democrata, o racista, o tolerante, o preconceito