Diogo faz fezinha semanal na loteria. Supersticioso, aposta na mesma casa desde que a MegaSena foi criada. Mas nunca ganhou nem a quadra. Que coisa! Intrigado, fotografou a faixa, mandou cópia pro blog e consultou os mestres pra descobrir o que havia contra ele. Descobriu. O problema não reside nele, mas na loja. Melhor: na propaganda da loja. Ali estão três espantalhos da sorte.
1. Numeral: zero à esquerda? Pra quê?
2. Indicação de horas: a abreviatura é h — sem espaço e sem plural.
3. Crase: o sinal indicador do encontro de dois aa é o grave, não o agudo (`). Mais: no reino da fusão, formam-se casaizinhos. Um deles: das … às. O outro: de…a. Eles são pra lá de fiéis. O que acontece com um acontece com o outro. Mas a faixa os obrigou a cometer adultério.
De segunda à sábado
De é preposição pura. A só pode ser preposição pura. Em ambas o artigo não tem vez: Trabalho de quarta a sexta. A farmácia faz entregas de segunda a sábado. Vejo tevê de domingo a domingo.
Ao pôr o acentinho grave no “à sábado”, o autor induziu a duplinha ao adultério. Misturou duas estruturas. O de pertence à primeira (de…a). O à, à segunda (da…à).
Das 8h às 20h
Da é combinação de preposição de com o artigo a. O à vai atrás. O acento serve de prova da fusão.
Mais exemplos: Li da página 8 à página 12. O expediente é de segunda a sexta, das 8h às 18h30. Trabalho das 14h às 18h.
Atenção, gente fina. Às vezes, a preposição de vem casadinha com o artigo o. O sexo não muda a regra. O segundo par mantém a fidelidade: Viajei do Paraguai à França. Fui de carro do Rio à Paraíba. Corri do aeroporto à rodoviária.
Cuidado: há ocasiões em que um dos nomes não pede artigo. O casalzinho fica, então, comprometido: Viajei da França a Portugal. Fui de Cuba à Alemanha.
Moral da história: Diogo estaria milionário se a faixa se exibisse assim:
Loterias
8h às 20h
Segunda a sábado