Humberto Soares Lemes quer entrar no serviço público pela porta da frente. Fez o que deve ser feito. Submeteu-se a concurso para disputar uma vaga de técnico de finanças e controle da Corregedoria Geral da União. Na prova de português, uma questão lhe pôs as barbas de molho. Ei-la:
11- Exige-se acento circunflexo nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo e do subjuntivo dos verbos crer, dar, ler e ver e seus derivados. Qual das opções atualmente foge da regra acima?
a) Felizes os que creem.
b) Não me deem conselhos.
c) Ondas veem e vão.
d) Os jovens de hoje leem pouco.
e) Escritores releem seus escritos muitas vezes.
O gabarito apontou a letra c. Está certo?
O erro se encontra no enunciado. A ordem diz: “Exige-se acento circunflexo nas terceiras pessoas do plural do presente do indicativo e do subjuntivo dos verbos crer, dar, ler e ver e seus derivados”. Misturou alhos com bugalhos. A regra abarca os quatro verbos. Mas em modos diferentes.
A regra:
Se na 3ª pessoa do singular o verbo terminar em ê, na 3ª do plural dobra-se o e e mantém-se o acento:
ele vê — eles vêem
ele lê — eles lêem
ele crê — eles crêem
ele dê — eles dêem
Reparou? Ver, ler e crer ganham o chapéu no presente do indicativo. Dar, no presente do subjuntivo.
Foi aí que o examinador pisou a bola. Ele generalizou. Disse que a 3ª pessoa do plural do indicativo e subjuntivo ganham acento. Falso.
No presente do indicativo, só a 3ª pessoa do plural de crer, ler e ver exibe chapéu:
ele crê — eles crêem
ele lê — eles lêem
ele vê — eles vêem
O presente do subjuntivo não tem nada com a história: que eles creiam, leiam e vejam.
O verbo dar joga em outro time. A 3ª pessoa do plural do presente do indicativo dispensa o acento (eles dão). Só o presente do subjuntivo encaixa na regra: ele dê, eles dêem
Moral da história: a generalização do enunciado confundiu os candidatos. Não vale.