É volúvel mesmo

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Quem vê cara não vê coração. É que as aparências enganam. Bancar o camaleão não se restringe às pessoas. As palavras podem fazer jogo semelhante. Uma delas é mesmo. Às vezes ela aceita o feminino. Outras, o plural. Não raro se fecha em copas. Mantém-se invariável.

E daí? Como desvendar os mistérios de criatura tão volúvel? Só há uma saída. Descobrir-lhe as manhas. São três. Em duas, ela varia. Em uma, não. Entendê-las pressupõe bancar o indiscreto: invadir a intimidade das caras que ela assume:

1. Varia quando significa:

1.1. idêntico, igual: o mesmo sorriso, os mesmos sorrisos, a mesma música, as mesmas músicas.

1.2. próprio, própria (no caso, vem sempre depois de substantivo ou pronome pessoal): Eu mesma fiz o trabalho. Nós mesmas fizemos o trabalho. Eles mesmos fizeram o trabalho. Foi Lula mesmo quem assinou o decreto. Foi Dilma Rousseff mesma quem propôs o documento.

2. Não varia quando tem a acepção de até, de fato, realmente: O deputado disse isso mesmo (realmente). Lula pensou mesmo (até) em falar nas privatizações. Ela quer adotar mesmo (de fato) dois recém-nascidos.

Xô, muleta

Atenção, preguiçoso. Conserve os pontos e o prestígio. Não use o mesmo, a mesma, os mesmos, as mesmas no lugar de substantivos ou pronomes. Mande pras cucuias frases como estas:

Maria se encontrou com o professor. Depois de conversarem, o mesmo deu as orientações para o trabalho. (O pronome ele quebra o galho: Depois de conversarem, ele deu orientações.)

Para participar dos debates, os candidatos têm de tomar conhecimento das regras do mesmo. (Que tal um sinônimo? Os presidenciáveis têm de tomar conhecimento das regras do evento.)