Brasília se notabilizou por muitas razões. Uma delas: a arquitetura. Lucio Costa e Oscar Niemeyer criaram uma cidade ímpar no mundo. A capital dos brasileiros é o museu ao livre do sonho de viver do homem do século 20. Outra: a civilidade no trânsito. Há 10 anos a sociedade se mobilizou e traçou regras de convivência entre motoristas e pedestres. A campanha foi um luxo. Mereceu destaque até na revista Time.
Com a passagem do tempo, de vez em quando a mobilização perde fôlego. O Palácio do Buriti, sede do governo local, afixou uma faixa na fachada do edifício. “A paz no trânsito é a gente que faz”, diz o texto. Leitores estranharam o português. Não seria “é a gente quem faz?”, perguntam curiosos. Entre eles, Elder Morais.
São duas construções. “É a gente que faz” é uma delas. “É a gente quem faz”, outra. Ambas legítimas, abonadas pelos melhores escritores. “Fui eu que te vesti”, escreveu Castro Alves. “Não és tu que me dás felicidade”, registrou Mário de Andrade. “Não sou eu quem está em jogo”, disse Érico Veríssimo com todas as letras.
Conclusão: a língua é um sistema de possibilidades. Oferece opções. O falante escolhe. No caso da faixa do Buriti, o autor preferiu uma. Poderia ter se inclinado pela outra — A paz no trânsito é a gente quem faz. A alternativa seria uma só — acertar ou acertar.