Falante, com muitos gestos e respostas prontas, Dilma deu entrevista ao Fantástico. Mostrou os palácios, os jardins, os quadros. Falou de família, política, corrupção. Patrícia Poeta, a entrevistadora, transitava com desenvoltura de um assunto para outro. Em dado momento, o tema entrou na vida privada da presidente. Eis o diálogo:
— É verdade que sua mãe mora aqui?
— Sim, mas, de vez em quando, ela vai a Belo Horizonte.
— Quem manda mais no palácio, a senhora ou ela?
— Na verdade, nenhuma de nós mandamos.
Ops! A apresentadora recolheu o sorriso. Depois, treinada, o reexibiu. Os telespectadores ficaram com a pulga atrás da orelha. “Nenhuma de nós mandamos?” Alguma coisa soava esquisita. O que é? O que é?
Concordância
É a concordância. Nenhum (nenhuma) tem poderes imperiais. Exige sempre, sempre mesmo, o verbo no singular: Nenhum dos candidatos se classificou. Nenhum dos acusados admitiu ter participado do assalto. Nenhuma das presentes quis falar em público. Nenhum de nós saiu ontem à noite.
Resumo da opereta: a presidente teria poupado os telespectadores se tivesse dito: “Nenhuma de nós manda”. Mas existe o outro lado da moeda. O vacilo deu uma dica pro blogue. A dúvida não é só de Sua Excelência. É de muitos de nós.