Dicas para a redação nota 10

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  Givanildo Morgado, lá de Pará de Minas, fez um pedido à coluna. Quer dicas para redigir um texto nota 10. “A boa redação”, diz ele, “faz a diferença.” Define a classificação nos cursos mais concorridos da universidade. Garante bons empregos. Assegura promoção funcional. Não é pouco.

Guarde isto, Givanildo: escrever é mandar recado. A receita de uma sobremesa é um recado. O convite para a festa de aniversário é um recado. O horóscopo é um recado. A prova feita na escola é um recado. A dissertação do vestibular é um recado.

A gente manda e recebe recados todos os dias. A doméstica anota a mensagem para a patroa ausente. O médico prescreve o remédio para o paciente. Você escreve uma carta para o amado. O estudante faz a dissertação. Seu coleguinha manda um bilhete pra você.

É tudo recado. O desafio: fazer-se entender. Se o leitor não captar a mensagem, o autor fracassou. Não adianta dizer que o outro é ignorante, tem poucas letras ou lhe faltam condições de ler a obra-prima que tem à frente. Fazer-se entender é responsabilidade de quem escreve. Como chegar lá?   1 – Seja natural. Imagine que o leitor esteja à sua frente ou ao telefone conversando com você. Fique à vontade. Espaceje as frases com pausas. Sempre que couber, introduza uma pergunta direta. Confira a seu texto um toque humano. Você está escrevendo para pessoas. Gente igual a nós.   2 – Use frases curtas. Com elas, você tropeça menos nas vírgulas, nos pontos ou nas reticências. “Uma frase longa”, ensinou Vinicius de Moraes, “não é nada mais que duas curtas.”   3 – Ponha as sentenças na forma positiva. Diga o que é, nunca o que não é. Em vez de escrever “ele não vem regularmente ao trabalho”, escreva “ele falta ao trabalho”.   4 – Prefira palavras curtas e simples. Os vocábulos longos e pomposos criam uma barreira entre leitor e autor. Fuja deles. Seja simples. Entre duas palavras, prefira a mais curta. Entre duas curtas, a mais expressiva. Casa, residência ou domicílio? Casa. Casamento ou núpcias? Casamento. Advogado ou causídico? Advogado. Só, somente ou apenas? Só.   5 – Opte pela voz ativa. Ela deixa o texto esperto, vigoroso e conciso. A passiva, ao contrário, deixa-o desmaiado, sem graça. Compare:

Voz ativa: O presidente Evo Morales privatizou o gás e o petróleo da Bolívia.

Voz passiva: O gás e o petróleo da Bolívia foram privatizados pelo presidente Evo Morales.   6 – Abuse de substantivos e verbos. Seja sovina com adjetivos e advérbios. Eles são os inimigos do estilo enxuto. Compare:

Escreva seus textos profissionais com verbos vigorosos e substantivos precisos.

Escreva textos com verbos e substantivos.

7 – Seja conciso. Respeite a paciência do leitor. A frase não deve ter palavras desnecessárias. Por quê? Pela mesma razão que o desenho não deve ter linhas desnecessárias ou a máquina peças desnecessárias. Veja:

Como todo mundo sabe, os desamparados meninos de rua sofrem mil formas de violência, de diferentes feições.

Os meninos de rua sofrem violências variadas.

8 – Revise. Sua redação tem começo, meio e fim? Você mandou seu recado? Respeitou a correção gramatical? (Dobre os cuidados com a pontuação, a regência, a crase, a concordância. Triplique a atenção com a passiva sintética – como “vendem-se carros” e com o sujeito posposto ao verbo.)   9 – Avalie. As frases soam bem? Sem cacófatos (por cada, por tão, uma mão, boca dela)? Sem rimas (rigor do calor)? Você começou bem? Terminou melhor? Seu leitor entenderá o recado sem dificuldade? Tenha a certeza: há novo autor na praça — você.

10 — Não durma nos louros. A receita do campeão é treinar muito. Gustavo Borges conquistou medalha de ouro porque treina 15 horas por dia. Daiane dos Santos abafa na ginástica porque treina 12 horas por dia. Jornalista escreve bem porque escreve muito e sempre. Faça como ele: escreva pelo menos um texto todos os dias.