Valha-nos, Deus! Domingo o continente americano acordou no passado. Militares hondurenhos deram golpe de Estado. Tiraram o presidente da cama e, sem esperar que ele trocasse de roupa, levaram-no ao aeroporto. De pijama, o ex-todo-poderoso desembarcou na Costa Rica. Lá obrigaram-no a assinar carta de renúncia. Quando se viu livre, a desamparada criatura pôs a boca no mundo: “Fui vítima de sequestro brutal, sem nenhuma justificativa”.
A detenção e o exílio de Manuel Zelaya fizeram dois estragos. Um: lembraram tristes episódios do século 20. No período, contavam-se nos dedos os países da América Latina que escaparam de regimes de força. Graças ao sopro de democracia que varreu o continente, quartelaços pareciam página virada. Pareciam. Não são. O outro: puseram à prova a conjugação do verbo depor.
Depor é filhote de pôr. A coisa pega no subjuntivo. Muitos dizem “se eu pôr, se eu depor”.
Nada feito. O futuro do subjuntivo se forma do pretérito perfeito do indicativo. Mais precisamente: da 3ª pessoa do plural menos o -am final. Veja:
Pretérito perfeito: eu depus, ele depôs, nós depusemos, eles depuser(am)
Futuro do subjuntivo: se eu depuser, ele depuser, nós depusemos, eles depuseram
Como pôr, depor & familiares não têm z no radical, as formas em que o z soa se escrevem com s (pus, depus; pôs, depôs; se eu puser, depuser; se eu pusesse, depusesse).
Moral da opereta: Pisar a democracia pega tão mal quanto pisar a língua. Xô, satanás!