Ufa! A crase dá nó nos miolos. Como desatá-lo? É fácil como andar pra frente. O blog vai apresentar o passo a passo do emprego do sinalzinho pra lá de sofisticado. Vamos lá?
Primeiro passo: desvendar o segredo do acentinho
Crase é como aliança no dedo esquerdo. Avisa que estamos diante de ilustre senhora casada. A preposição a se encontra com outro a. Em geral, o artigo. Os dois se olham. Sorriem um para o outro. O coração estremece. Aí, não dá outra. Juntam os trapinhos e viram um único ser.
Segundo passo: descobrir se existem dois aa
Para que a duplinha tenha vez, impõem-se duas condições. Uma: estar diante de uma palavra feminina. A outra: estar diante de um verbo, adjetivo ou advérbio que peçam a preposição a:
Vou à piscina da Água Mineral.
O verbo ir pede a preposição a (quem vai vai a algum lugar).
O substantivo piscina adora o artigo (a piscina da Água Mineral fica na Asa Norte).
Resultado: a + a = à
João Marcelo é fiel à namorada.
O adjetivo fiel reclama a preposição a (quem é fiel é fiel a alguém).
Namorada se usa com artigo (a namorada de João Marcelo se chama Carla).
Resultado: a + a = à
Relativamente à questão proposta, nada posso informar.
O advérbio relativamente exige a preposição a (relativamente a alguém ou a alguma coisa).
Questão pede o artigo a (a questão ainda não tem resposta) Resultado: a + a = à
Terceiro passo: recorrer ao macete
Não quebre a cabeça. Na dúvida, recorra ao tira-teima. Substitua a palavra feminina por uma masculina. (Não precisa ser sinônima.) Se no troca-troca der ao, não duvide. É crase na certa:
Vou à piscina. Vou ao clube.
Marcelo é fiel à namorada. Carla é fiel ao namorado.
Relativamente à questão, nada posso fazer. Relativamente ao problema, nada posso fazer.
Moral da história: Ferreira Gullar tem razão. A crase não foi feita pra humilhar ninguém. Mas para indicar o encontro de dois aa. Só.