“No futebol, o pior cego é o que só vê a bola.”
Nelson Rodrigues
A senhora da sorte
Domingo foi dia de festa. Começou a Copa do Mundo. São 32 seleções em campo. Qual delas erguerá a taça? Timaços prometem belos espetáculos. A qualidade e a garra das equipes deixam claro que ganhará a que tiver a mãozinha da Fortuna.
Por quê? Porque ela é a dona do destino. Todos morrem de medo da deusa. Com razão. Ela é dona da sorte e do azar. Caprichosa, não tem lógica na distribuição dos bens e dos males. Faz o que lhe vem à cabeça. Sem pensar.
Às vezes, ela olha para uma pessoa. Acha-a simpática. Cobre-a de êxitos — a eleita passa no concurso, arranja o parceiro certo, ganha saúde de ferro, faz as viagens dos sonhos. Enfim, é afortunada.
Outras vezes, a ilustre senhora acorda de mau humor. Ao sair de casa, encontra um adulto ou uma criança. Não importa. Faz tudo dar errado na vida da criatura. A coitada fica sem dinheiro, a tevê pifa, o namorado se vai, Papai Noel se esquece do presente. É pessoa desafortunada.
Por ser a dona da sorte e do azar, Fortuna tem vários nomes. Alguns a chamam de destino. Outros de fado. Muitos falam em ventura ou desventura. Seja com que nome for, uma coisa é certa. Fortuna não olha o que faz. É cega. Na Copa, fará a escolha.
A sorte está lançada
O juiz apita. A bola rola. Pés e cabeças a disputam com agilidade, inteligência e garra. O resultado será um entre três. O time pode ganhar, empatar ou perder. Se o placar depende do humor da deusa grega, a boa regência depende de nós. Em caso de dúvida, o dicionário ajuda. A alternativa, então, só pode ser uma — acertar ou acertar:
1. O time ganha de outro por ou de: O Brasil ganhará da Suíça por 3 a 0 (ou de 3 a 0).
2. O time perde para outro por ou de: A Suíça perderá para o Brasil por 3 a 0 (ou de 3 a 0).
3. O time empata com outro por ou de: A Suíça empatará com o Brasil por 3 a 3 (ou de 3 a 3).
A escolher
O plural de gol? Nós preferimos gols. Os portugueses ficam com golos. Há, também, gois.
Futebol e balípodo
Futebol é… futebol. A palavra, que veio da língua inglesa, tem duas partes. Uma: foot, que quer dizer pé. A outra: ball, que significa bola. Em bom português: bola no pé. Nacionalistas tentaram colorir de verde-amarelo o nome do esporte. Chamaram-no balípodo. Inspiraram-se no grego ballo (lançar) e podós (pé). A novidade não pegou. Virou folclore.
Embaixadinha
No futebol, há jogadores pra lá de hábeis. São capazes de dar sucessivos toques na bola — com os pés, as coxas, os ombros ou a cabeça — sem que ela tenha contato com o chão. O espetáculo se chama embaixada. Mas o nome não tem nada a ver com representação diplomática, Itamaraty & cia. Tem a ver com a forma como se toca na pelota — por baixo. Malandro, o pé começa a manobra embaixo da redonda.
Tanto faz
O assunto é Copa. Com ela, o vocabulário esportivo. Algumas palavras encucam. É o caso de esporte e desporto. Ora, uma diz presente. Ora, a outra pede passagem. Ambas parecem ter o mesmo sentido. Empregar uma ou outra é questão de capricho? Ou elas têm significados diferentes?
Antes, só desporto tinha vez. Depois, nos fins do século 19 e início do 20, apareceu esporte. Coelho Neto, escritor que morreu em 1934, adorava a forma antiga. Achava-a pra lá de charmosa.
Ele mexeu os pauzinhos e ressuscitou-a. A danada chegou a figurar no nome da Confederação Brasileira de Desporto (CBD), que, hoje, é a Confederação Brasileira de Futebol (CBF). As duas formas — esporte e desporto — são muito usadas em português. Elas têm o mesmo significado. Querem dizer exercício físico praticado com método.
Leitor pergunta
Islã se grafa com inicial maiúscula ou minúscula?
Gabriela Silva, Porto Alegre
No sentido de islamismo (religião muçulmana), grafa-se com inicial pequenina como catolicismo, espiritismo, budismo. Na acepção de mundo muçulmano, é nome próprio.