O documento da Rio + 20 estava cheio de colchetes. Que diabo é isso? Temas polêmicos dificilmente obtêm consenso. O problema pode ser um parágrafo, um período, uma palavra. Pra não travar os debates, coloca-se o pomo da discórdia entre colchetes e segue-se em frente. Depois, volta-se a ele.
Colchete [ ] é um dos tantos sinais gráficos existentes na língua. Joga no time de vírgulas, pontos, reticências, parênteses, travessões. Mas ninguém fala dele. Gramáticas nem o citam. Por quê? Outro sinal o substitui. É o parêntese ( ). Mais familiar, ele deixa o pobre obscuro em segundo plano.
A desqualificação
Os parênteses dão este recado ao leitor: a palavra, a expressão ou a oração neles contida é secundária, acessória. Entrou ali de carona. Não faz falta. Trata-se, em geral, de uma explicação, uma circunstância incidental, uma inflexão, um comentário ou uma observação. Sem eles, o enunciado mantém o sentido. Quer ver? Leia os períodos sem as informações presinhas da silva: Brasília (a capital do Brasil) vai sediar a Copa das Confederações. Lula (quem diria!) firmou pacto com Maluf. Demóstenes Torres (ex-DEM) deve perder o mandato.
O realce
O travessão joga em outro time. Enquanto os parênteses desqualificam o termo que abrigam, o travessão o realça. Dá-lhe alto-falante: Brasília — a capital do Brasil — vai sediar a Copa das Confederações. Lula — quem diria!— firmou pacto com Maluf. Demóstenes Torres — ex-DEM — deve perder o mandato.
A neutralidade
Se a pessoa não quer destacar nem esconder, tem saída. Usa a vírgula. A bengalinha joga no time da neutralidade. Apenas separa o que deve ser separado: Brasília, a capital do Brasil, vai sediar a Copa das Confederações. Demóstenes Torres, ex-DEM, deve perder o mandato.