Cinquentona decadente

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    DAD SQUARISI // dadsquarisi.df@dabr.com.br

  O conceito de entropia vem da física. Significa isto: nenhum sistema escapa da ação do tempo. Mais dia menos dia, a estrutura se degrada. É inexorável. Vivos ou inertes, todos degringolam. As pessoas crescem, envelhecem e morrem. Se se cuidam, retardam o processo. Mas o fim é certo como o suceder do dia e da noite. O carro, o computador, a geladeira também sofrem a ação do calendário. Perdem o cheirinho, o brilho e o desempenho que caracterizam o novo. Bem tratados, claro, durarão mais. Mas também virarão sucata. A casa da gente segue a regra. Tijolo, madeira, pintura, fios, cabos, tudo caduca.

  As cidades são freguesas do processo. Brasília serve de exemplo. Assaltos, roubos, estupros, homicídios, sequestros relâmpagos ocorrem em áreas nobres ou populares. Apagões quase diários não poupam nem o coração do poder. Ônibus e metrôs circulam superlotados. Lixos e buracos atraem a dengue. Congestionamentos entopem eixinhos, eixões & cia. A rodoviária, a rodoferroviária, o aeroporto, as calçadas, o Teatro Nacional, os monumentos culturais pedem socorro. Hospitais conjugam o verbo faltar. Sobram filas.

  A entropia é inelutável. Controla-se o ritmo do desgaste, não o processo. A questão: Brasília ainda não completou 50 anos. O que acelerou a decadência? A resposta aponta duas direções. Uma se relaciona com a manutenção preventiva. A infraestrutura não acompanhou a expansão da demanda, que inflou duplamente. De um lado, pelo aumento da população. De outro, pelo acréscimo da renda. Em bom português: chegaram fregueses novos e os antigos ficaram mais ricos. Passaram a consumir mais — mais serviços, mais luz, mais água, mais estrada, mais estacionamento, mais mais.

  Brasília paga o preço de décadas de má administração. Tivemos governantes impostos e governantes eleitos. Maus gestores, foram incapazes de olhar pra frente. Mirar a cinquentona ou a centenária Brasília quando a cidade engatinhava exigia vocação de estadista. Com o talento de quem pensa nas futuras gerações (não nas próximas eleições), o dirigente não só teria investido na infraestrutura física. Teria investido também na infraestrutura de recursos humanos sofisticados. Só eles são capazes de lidar com a complexidade crescente da urbe.

 (A foto é do que deveria ser o Museu de Arte de Brasília.)