Dad Squarisi // dad.squarisi@correioweb.com.br Rio, São Paulo, Minas têm uma certeza. As chuvas trarão enchentes, que. inundam, desabrigam, matam. As causas da ira celeste são várias. Entre elas, o desmatamento, a ocupação desordenada da terra, o excesso de asfalto e calçamento. Sobre a superfície impermeabilizada, a água corre mais rápido. Avoluma-se. Fica incontrolável. Ruas se transformam em rios. Casas desaparecem. Adultos e crianças tentam se salvar. Abandonam o patrimônio de toda a vida. Em Brasília, a estação das águas é bem-vinda. Depois de longa seca, o verde renasce, as flores explodem, os pássaros recuperam o gorjeio. Primavera e verão se confundem. O cenário brasiliense parece distante do paulista. Nada mais ilusório. São Paulo construiu o horror passo a passo. Ao longo dos 454 anos de vida, a cidade foi ocupada desregradamente. Pôs abaixo as matas, avançou no leito dos rios, diminuiu a área verde, destruiu a cobertura vegetal. Colhe, agora, os frutos. As cenas de Planaltina inundada, da Estrutural arrastada pela enxurrada, do viaduto Israel Pinheiro afogado no lamaçal são prova de que a mesma ameaça pesa sobre Brasília. A cidade está cercada de assentamentos. Condomínios proliferam por todos os lados. Alterações do gabarito de prédios, mudança de destinação de áreas, parcelamento de lotes, criação de bairros deixam saldo negativo: multiplicam-se os moradores, o número de carros aumenta, a pressão sobre o equipamento urbano chega ao extremo. O DF perde o ar. Com o fim da cobertura vegetal, a temperatura sobe, as secas se prolongam. As autoridades fazem interpretação generosa das leis ambientais. Esquecem que o meio ambiente não é coração de mãe. As áreas de risco só comportam o limite de sua capacidade. Avançar é suicídio. Por enquanto, áreas que fazem o controle dão a impressão de que não há risco na ocupação crescente. Nada mais falso. Vale a pergunta: com 454 anos, Brasília exibirá cenário diferente do de São Paulo? Os governantes hoje conhecem os impactos ambientais. Têm, por isso, responsabilidade dobrada. Precisam estabelecer regras para o futuro, não ficar presos ao imediatismo do presente. Na dúvida, basta olhar para a capital paulista. Foi assim que tudo começou.. (artigo publicado na Editoria de Opinião do Correio Braziliense)