“A crase”, brincou Ferreira Gullar, “não foi feita pra humilhar ninguém.” O poeta maranhense tem razão. O sinalzinho foi feito pra indicar a fusão de dois aa. Um deles: a preposição a. O outro: em geral o artigo definido. Ora, o a é feminino. Portanto, a crase só ocorre antes de nomes que usam salto alto e batom.
Às vezes, o artigo brinca de esconde-esconde. Palavras ou expressões formadas de vocábulos femininos ficam ocultas, mas permanecem vivinhas da silva. E contam como se estivessem expressas. Veja exemplos: Não fui à Livraria Cultura, mas à Dom Quixote. Não fui à Livraria Cultura, mas à (livraria) Dom Quixote. Dirigiu-se à Rua da Praia e à Senhor dos Passos. Dirigiu-se à Rua da Praia e à (rua) Senhor dos Passos.
Fazer-se de morto não constitui exclusividade de palavras. Expressões também apelam para o joguinho. Uma delas é à moda de: móveis à Luiz XV (móveis à moda de Luiz XV), cabelo à Roberto Carlos (cabelo à moda de Roberto Carlos), Estilo à Machado de Assis (estilo à moda de Machado de Assis).
A questão: bife a cavalo entra no time dos brincalhões? Não. Cavalo, animal herbívoro, não come carne. Nem bife, claro.