Cadê Brasília?

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DAD SQUARISI // dadsquarisi.df@@dabr.com.br

A expectativa era grande. Brasilienses ocupavam camarotes. Alguns exibiram faixas de apoio a Brasília. Outros, de apoio à Beija-Flor. Muitos, sem demonstrações externas, estavam na torcida. A escola de samba de Nilópolis ia homenagear Brasília. Esperava-se espetáculo apoteótico, daqueles que se tornaram marca registrada da campeã de tantos carnavais. O tema ajudava — a epopeia de uma cidade futurista que mudou a face do Brasil.

A espera foi longa. Última das seis agremiações a desfilar no domingo, a Beija-Flor pisou o Sambódromo por volta das 4h30 de segunda. Antes se apresentaram União da Ilha, Imperatriz, Viradouro, Unidos da Tijuca e Salgueiro. Ops! O que é aquilo? Arremedo da Catedral, com dimensões tímidas, sem movimento. Parecia maquete feita por aprendiz de feiticeiro. A comissão de frente, que deveria anunciar o tema a ser desenvolvido, não disse a que veio. Em bom português: não deu o recado.

A conhecida exuberância da Beija-Flor veio depois, sem ter nada a ver com a pobre e perdida catedral. Alas de índios, depois alas de escravos negros, a seguir alas e alas de animais do cerrado. Egito, Império Romano, Constantinopla, Cruzadas, peste bubônica estavam lá. A missão Cruls também. “E Brasília, cadê Brasília com seu traçado simbólico, seus palácios, suas tesourinhas, suas superquadras, seus candangos, seus heróis, seu misticismo?”, perguntavam-se os espectadores. Lá no fim se via o busto de JK — estático, sem mexer um bracinho sequer. Tímidas e rápidas, cenas da construção e inauguração da cidade. Em resumo: a escola ignorou os 50 anos da capital.

“Acabaram fazendo um carnaval que não foi de Brasília. Foi da Amazônia”, comentou Joãosinho Trinta. A impressão é que a escola mostrou a pré-Brasília. O enredo terminou onde deveria começar. Por quê? Alguns disseram que essa era a proposta. Outros apostaram na mudança de rumos. Ao estourar o escândalo do mensalão, os dirigentes temeram a reação do público. Pra evitar a vaia, voltaram-se para trás. Em vez do contemporâneo, optaram pelo extemporâneo. O desfile nasceu velho.