“É o caos”, diziam os baianos. Referiam-se à desordem decorrente da greve dos policiais. Sem fardados nas ruas, a bandidagem fez a festa. Deu de tudo: assaltos, sequestros, estupros, roubos, incêndio de carros e ônibus. Valha-nos, Senhor do Bonfim!
“É o caos”, gritam os cariocas. Os trens da Super Via não deixam de dar problema. Deixam os passageiros na estação ou param no caminho. Muitos não chegam ao trabalho ou à escola. Revoltados, os fluminenses perderam a paciência. Na quinta, invadiram a linha férrea, ocuparam a cabine do maquinista, deitaram-se nos trilhos. Valha-nos, São Sebastião! É o caos
Caos? Vale conhecer a intimidade da palavra. Ela vem de longe, de muito longe, da mitologia grega. Quando nasceu, há muiiiiiiiiiiiiitos anos, o mundo era uma baita confusão. A terra invadia o mar. O mar avançava na terra. O céu ora estava lá em cima, ora cá embaixo. As montanhas mudavam de lugar.
Os ventos sopravam tão fortes que as águas do oceano subiam e desciam morros, destruíam cavernas, punham tudo de pernas pro ar. Era o caos. Um dia, ninguém sabe quando, apareceu uma força pra lá de misteriosa. Olhou aquela bagunça toda e decidiu:
— Chega de baderna! Vou pôr ordem no caos.
E pôs. Reuniu água, terra, vento e moldou um disco. Em seguida, pendurou-o no vazio. Fez, então, a curvatura do céu. Encheu-a de ar e de luz. É a abóbada celeste, que hoje está cheinha de estrelas. Logo depois, arrumou a terra. Espalhou planícies verdes pelo chão e ergueu montanhas. Mais tarde, organizou as águas. Mandou-as rodear a terra, formar rios e lagos. Ufa!
As partes mais importantes do mundo estavam prontas. Aí veio a vida. Os peixes ocuparam as águas. Os pássaros tomaram conta do ar. Os homens e os demais animais ficaram com a terra. O céu passou a pertencer à força poderosa que acabou com o caos. Os gregos a chamam Zeus. Nós a chamamos Deus.