Brasil bonito

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DAD SQUARISI // dadsquarisi.df@@dabr.com.br

Ops! O país do jeitinho, que deixa pra amanhã o que pode fazer hoje e se vangloria da imprevidência, dá mostras de mudanças. Não são quaisquer mudanças. Mas transformações radicais. Como o adjetivo diz, capazes de atingir a raiz. E, porque chegam lá, viram paradigmas pelo avesso.

O show das eleições e o julgamento do mensalão demonstram que ares frescos sopram e deixam rastros: agitam a paisagem empedernida cuja superfície só dá guarida ao atraso e ao subdesenvolvimento. A novidade confirma velho dito chinês. “As árvores”, dizem os seguidores de Confúcio, querem ficar quietas. Mas o vento não deixa.”

“É coisa de Primeiro Mundo”, costumamos repetir diante do surpreendentemente benfeito. Pois vamos lá. As eleições no Brasil são coisa de Primeiro Mundo. Planejadas com rigor, garantem a ida às urnas de 140 milhões de brasileiros. Eles votam sem sobressaltos. Em poucas horas, conhecem os vencedores.

Ninguém questiona a lisura do pleito. Todos sabem que o resultado representa a vontade da maioria. Este ano fomos além. Graças à batalha dos cidadãos, os fichas sujas caíram fora. A ocasião, vale lembrar, não faz o ladrão. Ele nasce feito. A ocasião faz o roubo.

“Pouca saúde e muita saúva os males do Brasil são”, diagnosticou Mário de Andrade há 84 anos. Hoje corrupção e impunidade tomariam o lugar da duplinha. Uma tem íntima relação com a outra. A certeza da inexistência de punição estimula os vocacionados. Pesquisas comprovam que não se faz o bem para ir pro céu, mas pra escapar do inferno.

Sem risco de arder nas fogueirinhas satânicas, as mãos se alongam até o erário. Roubam saúde, educação, segurança, fé e a perspectiva de futuro. Plantam a desesperança. Contaminam o sadio. O julgamento do mensalão anuncia que o voo solto chegou ao fim. Não significa que o ladrão deixará de roubar. Significa que, se o fizer, corre o risco concreto de cair nos braços de satanás.

Lá, além das grelhas em brasa, esperam-no as confortáveis celas dos presídios brasileiros e a obrigação de devolver o surrupiado. Maluf inaugurou o retorno. Terá de restituir R$ 21 milhões aos cofres públicos. Que venha o resto — dos Maluf de ontem e de hoje.