Boto fé no papa

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Dad Squarisi

O papa fez bonito. Ao chegar ao Rio, tentou discursar em português. Repetiu a experiência na homilia em Aparecida. Fracassou. Nas duas ocasiões, falou o velho e bom portunhol. Mas não deve desanimar. Ele tem futuro. Ao contrário dos hispanofalantes monoglotas, Sua Santidade pronuncia os sons que a língua de Camões esbanja e a de Cervantes desconhece.

É o caso das vogais. Temos 12 — abertas, fechadas, nasais, orais, reduzidas. Eles têm cinco (a, ê, i, ô, u). Aí reside uma das tragédias. Sem os fonemas abertos, vovó soa vovô. Café, cafê. Sem os reduzidos, eli bati vira ele bate. Sem os nasais, irmã se transforma em irma.

Os ditongos não fogem à regra. É outra tragédia. O portuguesíssimo ão se ouve on. Coração é coraçon. O em não ganha o izinho jeitoso. Jovem permanece jovem, não jovein. As consoantes, coitadas, sofrem mais que escravo no eito. O z ecoa c. Casa, mesa e camisa são caça, meça, camiça.

Etc. Etc. Etc.

Francisco não tem as limitações dos conterrâneos. Ele pronunciou o z de caracteriza. Tirou 10 ao dizer visão. Reduziu a vogal de verdadeiramente. Nasaliou o a de quanta. E por aí vai. Tinha condições de de se sair melhor. Não o fez por duas razões. Uma: a pouca familiaridade com o português. A outra: o extremo cansaço, que faz a pessoa retornar à língua original. Treino e boa cama farão milagres. Boto fé.