Bruno Freitas
A palavra brasuca é velha conhecida da crônica esportiva. Sinônimo de brasileiro, vem sendo amplamente usada desde a década de 1980, embora ainda não apareça em alguns dicionários. Com a escolha do nome que dará vida à bola da Copa de 2014, veio a dúvida: é certo escrever Brazuca com Z, como sugerem a Fifa e o Comitê Organizador Local (COL), ou com S, como aponta a língua portuguesa?
Das duas formas, esclarecem os maiores especialistas no assunto. Consultados pelo Correio, quatro professores de português aprovam a adoção de Brazuca, desde que o objetivo seja facilitar a identificação do Brasil internacionalmente e sua função — ser nome próprio — não acabe desvirtuada.
“Realmente, não existe Brazuca nos dicionários. O vocábulo registra com S. É errado? Não. Como se trata de nome próprio, você dá ao filho a denominação que quiser”, afirma Dad Squarisi, escritora, jornalista e autora do Manual de Redação dos Diários Associados. Autoridade no assunto, ela acredita que, apesar da diferença, a palavra logo seja inclusa nos dicionários como forma de denominar a bola do Mundial. E só. “Para a Fifa, Brazuca significa bola, ou seja, é completamente distinta de brasuca, que significa natural ou habitante do Brasil. Quando a coisa pegar, certamente ela será oficializada como o nome do produto. Pode-se fazer isso, a língua nos permite”, explica Dad.
Razões de mercado
O fato de o país ser mais conhecido no exterior como Brazil, acrescenta a professora da Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Carla Coscarelli, ajudará na popularização da bola. O emprego do Z, reforça ela, não vai alterar o vocabulário nacional. “São várias as razões mercadológicas que levaram a essa escolha. É coerente. Não deixaremos de ser o Brasil com S.”a
O uso do Z também remete à época da implantação do português no país, ressalta José Nani Júnior, professor e diretor de um curso voltado à disciplina. “Naquele tempo, Brasil era escrito com Z. Com o passar dos anos, a etimologia da palavra passou a adotar o S como elemento gráfico. Então, não vejo grande problema nisso, acho até interessante. Seria uma retomada à origem do Brasil.”
O professor Sinval Neves, redator e revisor da Assembleia Legislativa, tem opinião diferente. Ele não enxerga o termo Brazuca nem como certo nem como errado. Por outro lado, a exemplo de Coscarelli, acredita que o fato de o Mundial ser um evento internacional justifica a criação do nome próprio. “Quase o mundo todo no exterior registra Brazil. Vejo isso não como uma questão linguística, mas comercial. É muito mais fácil vender a bola com Z lá fora do que com S.” Os criadores da sucessora da Jabulani que o digam.
“Para a Fifa, Brazuca significa bola, ou seja, é completamente distinta de brasuca, que significa natural ou habitante do Brasil. Quando a coisa pegar, certamente ela será oficializada como o nome do produto”
Dad Squarisi, escritora, jornalista e autora do Manual de Redação dos Diários Associados
“Tenho certeza de que a Brazuca vai entrar para a história, ao lado de outras bolas que se tornaram ícones da Copa do Mundo, como a Tango, usada na Argentina em 1978, e a Azteca, da Copa do México, em 1986”
Jérômé Valcke, secretário geral da Fifa