Pó de micoMárcio Cotrim
Substância que inspirava brincadeiras no antigo Brasil rural e semiurbano, o pó de mico, ou mucuna, que se encontrava em certos pontos da mata atlântica. Da grande vagem, raspavam-se os pelos que a recobriam até acumular um pozinho fino, extremamente urticante que provocava muita coceira ao coitado que o tocasse. Era uma travessura divertidíssima geralmente praticada em recintos fechados ou lugares de aglomeração humana, sobretudo nas cidades menores. A vítima se coçava como um macaco, daí o nome.
Há antológicos episódios de coceiras coletivas causadas pelo pó de mico. Um deles aconteceu no luxuoso cinema carioca Art Palácio, em Copacabana, nos anos 60. Um engraçadinho subiu ao 2º andar da sala de projeção e de lá despejou enorme quantidade do tal pó sobre a plateia embaixo. Atarantados, os espectadores passaram a coçar-se loucamente, a ponto de fugirem para a rua em busca de lenitivo.
Cena chapliniana: uma multidão em cócegas, a sacudir-se na calçada diante de transeuntes atônitos com o insólito espetáculo. E, quanto mais se coçavam, mais a coceira aumentava, a ponto de provocar feridas cutâneas.
A propósito, naquele ano fez sucesso no carnaval a marchinha Pó de mico: “Vem cá, seu guarda/ bota pra fora esse moço/ que está brincando/ com pó de mico no bolso”/ Foi ele, foi ele sim/ foi ele que jogou o pó em mim.”
Enquanto os foliões se esbaldavam ao som da marchinha, alguns aproveitavam para não apenas coçar-se, mas também se coçar com alguém…