Passar o pente finoMárcio Cotrim
Expressão que, literalmente, designa a ação de usar o lado fino do pente para conseguir retirar sujeiras do cabelo como caspas e piolhos. Em termos figurativos, significa afastar as pessoas ruins de determinado grupo ou, no âmbito comercial, eliminar muambas que estejam prejudicando a atividade da empresa.
No campo fiscal, a malha fina, em minucioso exame, procura corrigir erros e impropriedades em declarações de renda, o que assusta muita gente quando lhe chega a intimação para o respectivo acerto — e a Fazenda sempre tem razão…
Na história do Brasil, o pente fino teve seu lugar num episódio divertido e patético. Ei-lo: quando a família real portuguesa, em 1808, mudou-se apressadamente para o Rio de Janeiro numa tumultuada e arriscada travessia marítima, as mulheres, que viajavam em precárias condições, foram atacadas por uma epidemia de piolhos, engordados pelos respectivos ovos, as lêndeas — palavra que, aliás, Otto Lara Resende considerava como a mais bela da língua portuguesa, veja você. Mas voltemos à jornada marinha.
Não teve jeito. Todas as mulheres tiveram que raspar os cabelos, ficaram carecas. Ao desembarcarem no Rio, sua aparência era ao mesmo tempo assustadora mas também — para as ingênuas cariocas daquela época — uma espécie de dernier cri da moda europeia.
Resultado: boa parte da mulherada do Rio imediatamente aderiu à novidade, meteu pente à cabeleira e passou a exibir, com apressado orgulho, lustrosas carecas. Foi um espanto, mas, como depois se viu, clamoroso engano que só serviu para estimular os mexericos de sôfregas Mariquinhas e Maricotas.