Assistente de Deus

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DAD SQUARISI // dadsquarisi.df@dabr.com.br

A maior tragédia nacional? É o jeitinho. A prática anda de mãos dadas com a improvisação e o quebra-galho. Vira as costas para o planejamento e a previdência. Aposta na sorte ou entrega a Deus. Mas, como diz o outro, o homem põe e o Senhor dispõe. O fado amanhece de mau humor. O Todo-Poderoso se distrai. Dá no que dá.

Sabedores da falibilidade do Pai, impõem-se providências. Recomenda o bom-senso contratar-lhe um assistente à altura. Quem? Candidatos não faltam. Afinal, sentar-se em tão importante cadeira é objeto de desejo de 10 entre 10 pessoas. Querer, porém, não é poder. A criatura precisa preencher requisitos. O mais importante: ser gestora nota mil.

Tão sofisticada qualificação não vem do berço. Nem se adquire com ensaio e erro. A conquista do poder exige engenho, arte e técnica. Em bom português: exige bancos escolares. Há que estudar — e muito — para adquirir a luz divina capaz de iluminar escaninhos humanos, administrativos e políticos. Em suma: conduzir vidas.

Gestores de escolas lidam com a delicada matéria. Mas longe estão do preparo indispensável. Escolhidos entre profissionais da área, amigos do governante ou credores de benesses (eleitorais), homens e mulheres assumem a direção de instituições como quem vai a cinema ver um filme do qual nem sabem o nome.

Diretor, personagens, enredo, trilha sonora, patrocinadores, nós da trama vão sendo revelados à medida que a película se desenrola. Mas, no mundo real, personagens são gente de carne e osso. Precisam de educação, saúde etc. e tal. Como alcançar bens tão preciosos? A Fundação Itaú Social promoveu debate para responder à pergunta.

Irma Zardoya, presidente da Academia de Lideranças de Nova York, expôs a experiência inovadora que se tornou referência nos Estados Unidos. Criada em 2003, a escola forma profissionais aptos a liderar professores, não a preencher fichas. O programa exige muito estudo.

Começa com processo seletivo rigoroso. Passa por imersão de seis semanas e, em seguida, residência de um ano com diretores e conselheiros treinados. Chega à direção. Mas o aprovado não assume sozinho. Durante um ano, conta com um tutor. Só depois, senta-se na cadeira de Deus. Sem jeitinhos.