As Malvinas

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José Horta Manzano

Território desolado, frio, ventoso, sem árvores, povoado por milhares de carneiros e alguns humanos, as ilhas Malvinas estão de novo sob os holofotes. Dizem uns que é por uma questão de soberania. Afirmam outros que o motivo é meramente econômico. Geopolítica? Prestígio? Afirmação de poder? Terão todos razão. Por trás da falação, há um pouco de tudo isso.

Dizem os italianos, não sem malícia, que mãe há uma só, equanto pais pode haver muitos… As Malvinas, seguramente não têm mãe; em compensação têm pais sobrando. Cada um, segundo suas conveniências, atribui-se a paternidade da descoberta.

Segundo os espanhóis, as ilhas teriam sido descobertas (e mesmo visitadas) por Gómez, Alcazaba e Camargo entre 1520 e 1540. A importância que atribuíram à nova terra foi tão pouca quem nem se preocuparam em dar-lhe nome. Já os ingleses garantem terem sido os primeiros a avistar o arquipélago no longínquo ano de 1592. Mais metódico — embora menos modesto — Davis, o capitão da esquadra, batizou as ilhas com… seu próprio nome.

Na sequência, holandeses e os persistentes ingleses continuaram a visitar o território e a dar-lhe novos nomes, contudo sem estabelecer lá uma colônia permanente. Cem anos mais tarde, já em fins do século XVII, uma enésima expedição inglesa rebatizou o arquipélago. Desde então, ficou conhecido como ilhas Falkland.

Quase um século se passou sem que nenhuma potência desse maior importância ao território. Em 1764, o explorador francês Louis Antoine de Bougainville acostou as ilhas, encarregado que fora pelo rei da França de estabelecer lá uma povoação permanente. Os colonos eram em maioria oriundos da cidadezinha francesa de Saint-Malo. O comandante não teve dúvida: rebatizou o lugar. Doravante, seriam as ilhas Malouines, gentílico aplicado aos originários de Saint-Malo.

A colônia incipiente, contestada por espanhóis e ingleses, gorou. Mas o nome pegou. Os espanhóis gostaram tanto que hispanizaram a expressão e a usam até hoje. De Malouines, o nome passou a Malvinas.

O nome oficial consignado na lista ISO — e internacionalmente reconhecido — é «Falkland Islands (Malvinas)». Na internet, os domínios baseados nas ilhas levam a extensão *.fk.

Na França e no mundo francófono, não há dúvida: o nome do lugar é Malouines. Nos países iberoamericanos, dizemos todos Malvinas. No resto do mundo, convém dizer Falkland. Todos entenderão. No Reino Unido, aliás, chamar o arquipélago de Malvinas soa como provocação. Melhor evitar.