Olha meus 48
Brasília completa 48 anos. Viva! Banda de música e tapete vermelho não faltam. Abusos tampouco. No calor dos festejos, lá está: “A capital comemora o aniversário de 48 anos”.
Valha-nos, Deus! Xô, redundância! Aniversário contém a palavra ano. Significa dia em que se somam 12 meses que se deu certo acontecimento. Aniversário dispensa ano. Ano dispensa aniversário. Em bom português: Brasília comemora 48 anos. Brasília comemora o 48º aniversário.
Por falar em aniversário…
Você é apressado? Então é do time dos que comemoram o “aniversário” de um mês do namoro, do casamento, do nascimento do filho. Manda convites. Promove festa. Apaga velinha. Abra o olho. Nesse ritmo, o calendário vencerá você. Tudo envelhecerá rapidinho, rapidinho. Para que a carroça não vá na frente dos bois, bata palmas para o 1º mês disto ou daquilo. Aniversário? Tenha paciência. Espere 11 meses.
Asa nos pés
Entre os festejos do aniversário da capital, um se destaca. É a 2ª Maratona Brasília de Revezamento. O evento, além de dar asas às pernas, propicia duas dicas de português. Uma: a origem curiosa da palavra maratona. A outra: a explicação do uso do z de revezamento.
Maratona
Corria o ano de 490 a.C. O poderoso exército persa invadiu Maratona. Os moradores da aldeia grega não tinham forças pra enfrentar o inimigo. Mas não se entregaram. Mandaram Filípedes (ou Fidípedes) a Atenas buscar reforços. Ele correu 42km em um dia. Conseguiu a adesão de 10 mil homens. Correu outros 42km para anunciar a boa-nova. Na volta, gastou o mesmo tempo.
Os filhos de Aristóteles e Platão ganharam a guerra. Em 1896, veio o reconhecimento. Os primeiros Jogos Olímpicos da era moderna introduziram a maratona como modalidade esportiva. Em homenagem a Filípedes, o atleta tem de correr 42km. Mas não precisa voltar.
Revezamento
Por que revezamento se escreve com z? Porque é derivado de vez. O sufixo re- quer dizer repetir. É o mesmo que aparece em reler, rever, reatar. Conclusão: revezamento é a repetição da vez.
O que ler?
Dica: Os arquivos de Deus, de Ruy Fabiano. São 28 contos impactantes. Além do texto impecável, que só dá prazer, as histórias fascinam. Penetram mundos antigos, que passam pela Arca de Noé, cabalas, o saber universal, o enigma da criação. Em todas, a presença do sagrado, do mistério e, sobretudo, da força da palavra. É com a palavra — pensada, falada ou escrita pelos humanos — que se formam os arquivos de Deus.
Quero saber
Temístocles Chaves tem muitas marcas. Uma delas: a curiosidade. Ele lê muito, conversa muito, questiona muito. Outro dia, uma dúvida o assaltou. Por que se diz “madre superiora”, mas “escola superior”? Madre e escola são nomes femininos. Mas o segundo adjetivo é masculino.
Pesquisa daqui, pergunta dali, Temístocles matou a charada. O superiora joga claro. Refere-se a madre. O superior brinca de esconde-esconde. Oculta entre o nome e o adjetivo, está a locução “de nível”: escola (de nível) superior, instituição (de nível) superior, mercadoria (de nível) superior.
Moral da história: quem procura acha.
Ser sedutor é…
Surpreender o outro. O presidente de um banco comunicou ao colega que mudara a sede da agência do centro de São Paulo para Paraty. A resposta: “Que inveja! Quem me dera estar em seu lugar!”