O fim da folia traz mais que a quarta-feira de cinzas. Traz uma baita dor nos pés. Depois de quatro noites de pula-pula, axés e sambas, ossos, músculos, pele e cartilagem parecem triturados. Não dá nem pra pisar plumas. Que dirá o chão. Massagens ajudam. Compressas também. Mas, nos casos mais graves, só há uma saída: procurar um terapeuta dos pés. Aí, a porca torce o rabo. Para encontrá-lo nos classificados, uma condição se impõe. A gente precisa saber como se chama a especialidade. Pedicure? Não. O pedicure cuida do embelezamento dos pezinhos. Ortopedista? Também não. Ele se ocupa sobretudo dos ossos, do esqueleto. E daí?
Henfil tinha uma paixão. Antes de olhar para a cara da mulher, mirava-lhe os pés. Se gostava da duplinha, seguia adiante. Caso contrário, matava a relação ali mesmo, no rés-do-chão. O cartunista era podófilo. Em outras palavras: louquinho por pés. O nome chique vem do grego podo. Na língua de Platão, o dissílabo quer dizer pé. A danadinha deu origem a montões de vocábulos. Todos têm um denominador comum — mantêm o significado original. O podoterapeuta trata das doenças dos pés. O podômetro mede a distância percorrida a pé. Pododáctilo é dedo de pé. E pododigital? Tem tudo com dedo do rico pezinho.