Quando o mundo nasceu, nasceram muitos deuses. Qual deles seria o deus dos deuses? A decisão foi tomada na luta. Zeus e o titã Cronos ficaram pra final. Depois de 10 anos de guerra, Zeus venceu. Mudou-se, então, para o Olimpo – montanha luminosa que fica pertinho do céu. Lá, com os demais imortais, goza de três privilégios. Um: a invulnerabilidade. Ninguém o pega. Outro: a juventude eterna. Nunca envelhece. O último: a imortalidade. Jamais morre. Os deuses são melhores que nós? Não. Eles mentem. Brigam. Matam. Têm raiva. São invejosos. Também são bons e fazem caridade. Enfim, têm os defeitos e as qualidades dos humanos. Zeus, por exemplo, vivia apaixonado. Todos os dias caía de amores por uma garota diferente. Mas não podia dar mole. A mulher dele era pra lá de ciumenta. Ele, então, dava um jeitinho. Pra conquistar as belas, mudava de aparência. Ora surgia como cisne. Ora, como nuvem. Às vezes, como águia. Outras, como chuva. Recebeu, por isso, o nome de deus das mil formas. Quem diria! A impermanência de Zeus tem tudo a ver com o hífen. Não de qualquer hífen, claro. Mas do hífen que segue as duas polarizações do universo. De um lado, o bem. De outro, o mal. A regra é simples. Usa-se o tracinho diante de vogal e h. É o caso de bem-aventurado, bem-estar, bem-humorado, mal-afortunado, mal-estar, mal-amado. Fácil, não? Seria não fossem as artes herdadas de Zeus. Há tantas exceções que bem e mal passaram a ser chamados de elementos das mil formas. Aprecie: bem-criado (malcriado), bem-ditoso (malditoso), bem-falante (malfalante), bem-mandado (malmandado), bem-nascido (malnascido), bem-soante (malsoante), bem-visto (malvisto), bem-vindo (malvindo). Diante de tanta variedade, vão-se as certezas. Os mortais, que não gozam dos privilégios de Zeus, só têm uma saída – consultar o dicionário. Com o paizão, não há erro. É acertar ou acertar.