A escola de samba tem sua musa. É a
rainha da bateria. Com evoluções e samba no pé, a bela conduz os
músicos e incendeia a moçada. A oração também tem a sua deusa.
É o sujeito. Ele manda e desmanda no pedaço. Concordância, vírgula
e intimidades de preposição têm tudo que ver com o todo-poderoso.
Daí a importância de chegar a ele. Primeiro desafio: identificá-lo.
Nem sempre é tarefa fácil. Caprichosa, a criatura se disfarça com
máscaras e fantasias. Ora assume a forma de nome. Ora, de oração.Irriquieta, ela muda de lugar. Às vezes,
aparece antes do verbo. Outras, depois.
Sem máscaras
Como ver a danadinha nua e de cara lavada?
É fácil. Basta seguir dois passos. Um deles: localizar o verbo. O
outro: submetê-lo a interrogatório.Perguntar-lhe ‘‘quem é que’’
se se trata de coisa. E ‘‘quem é que’’ se se refere a pessoas.
Eis exemplos:
A CPI dos Bingos já
tem assinaturas.
Que
é que já tem assinaturas? Sujeito: CPI dos Bingos.
Na Ciclovia do Lago Norte, passavam
bicicletas.
Que
é que passavam na Ciclovia do Lago Norte?
Sujeito: Bicicletas.
Alugam-se casas.
Que
é que se alugam? Sujeito: casas.
Quem ama educa.
Quem é que educa? Sujeito: quem ama.
Sem homicídios
Sujeito e verbo são unha e carne. Importantes,
constituem os termos
essenciais da oração. Vírgula entre
eles não tem vez. Separar um do outro é
cortar a cabeça do corpo. Mata. O cruel
homicida não tem saída. Vai
pro xilindró. Conclusão: com a vírgula,
toda a atenção é pouca. Ela não pode — nem a pedido de Deus ou
por tentação do diabo — se meter entre o sujeito e o verbo.Veja exemplos nota mil:
Os trios elétricos que animam
o carnaval da Bahia todos os anos arrastam milhares de foliões atrás
de si.
Quem ama não mata.
O livro que comprei na Siciliano
duas semanas atrás está no porta-malas do carro.
Sem intimidades
O sujeito não foge à regra dos poderosos.
Cultiva inimigos a torto e a direito. Um deles é a preposição. Os
dois são bicudos. Não se beijam. Antes do mandachuva, a combinação
da preposição com artigo ou pronome não tem vez. É um pra lá, outro
pra cá:
Os sambistas descartam a idéia
de o desfile ocorrer sem as fantasias.
Que é que ocorre sem as fantasias? Sujeito:
o desfile.
Como desfile
é sujeito, a preposição nem chegou perto do artigo. Ficou afastada.
Apesar
de essa informação
(sujeito) ter sido veiculada, ainda não houve confirmação oficial.
A fim
de os novatos (sujeito) saírem nas escolas, precisam
memorizar o samba-enredo e ensaiar muitos meses.
O fato
de ele (sujeito) continuar no páreo, não garante a
bilheteria do teatro.
Viu? As estruturas vistas são diferentes
das de frases em que a preposição e o artigo não antecedem o sujeito.
Aí, rola promiscuidade. É tudo juntinho: Gosto
do desfile das escolas de samba. Apesar
do frio, dispenso o sobretudo. Soube
desse fato ontem. Gosto
dele.
Sem descuidos
Localizado o sujeito, a concordância
perde a carranca. A razão é simples. Aonde o sujeito vai, o verbo
vai atrás. Em outras palavras: o verbo é vaquinha de presépio. Concorda
com o sujeito em pessoa e número.
Se o mandão estiver na 1ªpessoa, o
verbo se conjuga na 1ª pessoa: Eu desfilo na escola de samba. Nós
desfilamos no Salgueiro. Se na 2ª, o subordinado se flexiona na
2ª: Tu desfilas na avenida. Vós desfilais na Beija-Flor.
Se na 3ª, o subalterno não discute.
Assume a terceirona: Ela desfila na avenida.Elas desfilam na gloriosa
verde-rosa. É isso. O sujeito dita a regra.