Adeus, carnaval! Adeus, folia! Adeus, irresponsabilidade remunerada! O calendário, implacável, chama à razão. Chegou a hora de guardar a fantasia e retomar o dia a dia. Não é fácil. Os abusos cobram preço. Moleza, dor de cabeça, vontade invencível de ficar na cama. É a ressaca. Receitas pra vencer o desânimo pintam aqui e ali. Caldinhos quentes, escalda-pés, chás amargos ocupam o topo da lista. Nada, porém, dispensa o bom sono — com sonhos coloridos sem o pesadelo do despertador. O preço do porre
Você sabia? Ressaca veio do espanhol. Na terra de Cervantes, quer dizer “sacar de novo”. A palavra remete à fúria do mar. Rajadas de vento fazem subir o nível do oceano. Aumentam o tamanho das ondas. A massa de água caminha cada vez mais rápido até encontrar o litoral. Ao chegar à praia, inunda a faixa de areia. Os vagalhões quebram bem próximos à orla. Alagam avenidas e invadem construções à beira-mar. Tragam banhistas descuidados. Valha-nos, Iemanjá! Valha-nos, Nossa Senhora dos Navegantes! Valha-nos, Senhor!
O que o mar tem a ver com o porre? Tudo. O mal-estar típico dos beberrões lembra o fluxo e refluxo das ondas. Quem se afoga no álcool ou passa a noite em claro sente mal-estar na manhã seguinte. O estômago não aguenta as turbulências. Cobra o preço. Olhos de ressaca
Lembra-se de Capitu? A personagem de Machado de Assis tinha “olhos de ressaca”, que “traziam não sei que fluido misterioso e enérgico, uma força que arrastava para dentro como a vaga que se retira da praia nos dias de ressaca”. Com tal magnetismo, os olhos da protagonista de Dom Casmurro arrasam até hoje.