O filme nasceu peça de teatro. Em 1962, a revista Cláudia apresentou ao público Odorico Paraguassu e a divertida Sucupira. Sete anos depois, a história ganhou os palcos. Mas a popularidade explodiu com a novela O Bem-Amado. Em cores, a criação de Dias Gomes chegou à telinha com Paulo Gracindo e Lima Duarte. O prefeito demagogo que inventava palavras para ludibriar o povo simboliza os políticos desta Pindorama tropical.
Agora a narrativa virou filme. Marco Nanini se exibe na pele de Odorico. José Wilker encarna o matador de aluguel Zeca Diabo. Mas, apesar do talento da dupla e dos demais atores, a obra não convence. Soa falso. Por quê? Vale o palpite. Cassaram o hífen do nome. Na versão original, bem-amado aparecia como manda o vocabulário ortográfico — com o tracinho. Agora, sem desculpa, as partes estão soltas. O elo faz falta. Acima do bem e do mal
Quando usar hífen antes de bem e mal? A regra é simples como andar pra frente. Usa-se o tracinho diante de vogal e h. É o caso de bem-amado, bem-estar, bem-humorado, mal-amado, mal-estar, mal-humorado.
Fácil? É. Mas há as exceções. Elas são tantas que quase tornam a regra letra morta. Bem e mal passaram por isso a ser chamados de elementos das mil formas. Aprecie: bem-criado (malcriado), bem-ditoso (malditoso), bem-falante (malfalante), bem-mandado (malmandado), bem-nascido (malnascido), bem-soante (malsoante), bem-vindo (malvindo).
E daí? Diante de tanta variedade, vão-se as certezas. Nós, pobres mortais, só temos uma saída — consultar o dicionário. Com o pai de todos, não há erro. É acertar ou acertar.