Hastear a bandeira branca em Israel e na Palestina? Parece miragem. Depois de 64 anos de idas e vindas sangrentas, o conflito se congelou. Os líderes não dialogam. Os negociadores desistiram. O povo perdeu a esperança. Nesse clima de pessimismo, o Itamaraty promoveu o seminário A construção da paz no Oriente Médio — um papel para as diásporas.
No seleto grupo de convidados, judeus e árabes eram a maioria. Jornalistas e estudiosos que circulam nos dois mundos tomaram a palavra. O denominador comum: impõe-se olhar para a frente. Esquecer o passado e construir o futuro exige educar as novas gerações para a paz.
Depoimentos deixaram claro: hoje, no berço da humanidade, impera a síndrome do inimigo. Síndrome, diz o dicionário, é um conjunto de sintomas ligados a uma doença. A enfermidade social se manifesta por certos sintomas. Um deles: desconfiar radicalmente do inimigo. Tudo que vem dele é mau, falso ou fraudulento. Outro: culpar o inimigo por tudo de ruim que acontece.
Outro, ainda: interpretar negativamente o que o inimigo faz. Partiu dele? Coisa boa não deve ser. Mais um, o mais importante: negar individualidade ao inimigo. Não dar-lhe um rosto. Não vê-lo como pessoa, gente que tem nome, pai, mãe, filhos. Ele é rechaçado como grupo. Judeus matam palestinos. Não Yousseff, Salim ou Said. Palestinos matam judeus. Não Davi, Salomão, Sherman.
Judeus e palestinos, concluiu a maioria dos presentes, sofrem de desinformação — raiz do preconceito e da intolerância. Com uma verdade incompleta que aplicam como absoluta, reduzem os feitos e as pessoas a categorias gerais simples. Ocorre a polarização. São bons ou maus. Patriotas ou traidores. Amigos ou inimigos. Nada de meio-termo.
Curar-se implica dar um rosto ao inimigo. O inimigo a quem se olha nos olhos é menos inimigo. É aí que entra a educação. Sem estar impregnadas de passado — sinônimo de ódio —, as crianças estão abertas para o novo. Como diz o outro, é de pequenino que se torce o pepino. Hoje Israel não figura nos mapas palestinos. A história da criação do Estado judeu não aparece nos livros didáticos israelenses. A ignorância cria fantasmas, preconceitos, intolerâncias — o círculo vicioso da síndrome do inimigo.