“Escrever”, ensinam os manuais, “é 10% de inspiração e 90% de transpiração”. Em outras palavras: escrever dá trabalho. E como! A gente tem de planejar, escrever e burilar o texto. Sem preguiça. A redação nota 10 não nasce na primeira tentativa. Nem na segunda. Nem na terceira. A cada versão o autor conjuga o verbo melhorar. Corta daqui, enxerta dali, troca palavras, muda parágrafos de lugar. Ufa!
Na coluna passada, falamos da importância da frase curta. Ela apresenta mil vantagens — é mais fácil de entender, oferece menos possibilidades de erros e torna o texto mais claro. Hoje vamos nos dedicar às palavras. Os vocábulos precisam ser escolhidos a dedo. Com eles, damos os recados certos e ganhamos pontos. Olho vivo.
Duas regras de ouro
1. Prefira palavras breves e simples. Palavras longas e pomposas funcionam como uma cortina de fumaça entre quem escreve e quem lê. Seja simples. Entre dois vocábulos, prefira o mais curto. Entre dois curtos, o mais expressivo. Causídico ou advogado? Advogado. Matrimônio ou casamento? Casamento. Auscultar ou sondar? Sondar. Falecer ou morrer? Morrer. Morosidade ou lentidão? Lentidão.
2. Escolha termos específicos. Há palavras que são mais específicas do que outras. Gato siamês é mais singular do que simplesmente gato; homem, mais do que animal; laranjeira, mais que árvore; árvore, mais do que planta ou vegetal. Trabalhador é termo de sentido geral, muito amplo; jornalista tem sentido mais restrito; jornalista do Correio Braziliense, mais ainda.
Ao descrever uma cena de rua, você pode referir-se genericamente a transeuntes ou particularizar: homens, jovens, estudantes, alunos da UnB. Escrever “foi um período difícil” constitui vagueza. “Estive desempregado durante três meses” é mais preciso, bem melhor.
Compare os textos. O primeiro prima pela generalização. O segundo, pela especificação:
Os jovens chegaram num carrão bonito. Usavam calças velhas, camisetas e óculos de sol. Entraram no primeiro restaurante que encontraram pela frente sem se preocupar com o preço.
Os jovens, entre 15 e 18 anos, chegaram numa BMW azul. Usavam calça jeans com remendos nas pernas, camiseta de malha branca e óculos de sol. Entraram no primeiro restaurante que encontraram pela frente, um italiano especializado em massas de Bologna, sem se preocupar com o preço.
Viu a diferença? Não foi por acidente que Gonçalves Dias compôs: “Minha terra tem palmeiras / Onde canta o sabiá”. Se tivesse dito “Minha terra tem árvores / Onde canta o pássaro”, seus versos estariam enterrados com ele, ignorados de todos.
Siga a regra: o específico é preferível ao genérico; o definido ao vago; o concreto ao abstrato.
(Coluna publicada no suplemento Gabarito, que circula às segundas no Correio Braziliense)