A propósito do incidente que estilhaçou os vidros do STF

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Ideia original de Wilma Schiesari Legris Texto de José Horta Manzano   Todos os que, no domingo 1° de julho, se encontravam em Brasília, na rota dos jatos Mirage, puderam notar um barulho ensurdecedor.

A plácida obra de arte, eterna guardiã do STF, aquela que carrega uma espada nua no colo e uma venda na cara a servir de cortina para tapar-lhe a retina, não acreditou no que ouvia. Estátua não fala, mas costuma pegar carona na ótica humana e atuar de forma surpreendente. Ouve muito bem e, às vezes, pensa.

«Que treco é esse que ronca tão forte?» — pensou a estátua, sem conseguir atinar. «Parece que vem da rua. Não! Acho que vem do ar. Será neura minha, ou estarão a me atacar

«Deus do céu!» — assustou-se. «Concordo que esta casa tenha suas falhas, mas não chega a ser nenhum antro. Cretino aqui não entra. Pelo menos por enquanto, não notei nenhuma tara. Quem sabe um dia deixo de ser nau sem rumo e caio na real. Ou serei a única anta neste mundo de olhos-vivos? Do jeito que as coisas vão, ainda acabo entrando pelo cano ou recebendo carta de demissão.»

O barulho aumentou. Um estrondo se ouviu.

«Ai, minha Nossa Senhora!» — continuou a estátua. «Tecoteco é que não é, parece mais tiro de canhão! Espero que não caia aqui. Para mim, nenhuma troca de lugar é permitida. Fui concebida por um tirano que me esculpiu rígida. Se pudesse, mandava o homem em cana!

Não consigo virar o pescoço, mas parece que o prédio rui. Será que está a cair? Isso aí vai custar caro. Amanhã os faxineiros terão muito resto de ruína para catar.»     PS: Todas as palavras em itálico são anagramas parciais da palavra AERONÁUTICA.