Existem palavras e expressões que viram praga. Espalham-se como água morro abaixo e fogo morro acima. Como quem não quer nada, caem na boca do povo. Todos as repetem como se fossem de carne e osso.
Uma delas é a nível de. No rádio, na tevê, nos discursos em plenário, na conversa dos amigos, pululam frases como estas:
Faço um curso a nível de pós-graduação.
A decisão foi tomada a nível de diretoria.
O projeto ainda está a nível de papel.
Outro dia, em festa no Itamaraty, Paulo chegou perto de Grace. Cheio de sedução, perguntou:
— A nível de doce, qual desses você prefere?
O afetado espera a resposta até hoje.
Acredite: a nível de não existe. Xô!
O que há é ao nível de e em nível de. As duas expressões se parecem. Mas não se confundem:
Ao nível de significa à altura de: Recife fica ao nível do mar. O cargo de Maria está ao nível do de Luís.
Em nível de quer dizer no âmbito de: Faço um curso em nível de pós-graduação. A decisão foi tomada em nível de diretoria.
Cá entre nós. Em nível de existe. Mas é dispensável. Como tudo que é dispensável, sobra. Livre-se dele. A frase ganha em concisão e elegância: Faço um curso de pós-graduação. A decisão foi tomada pela diretoria. O projeto ainda está no papel.
É isso. A língua é um sistema de possibilidades. Democrática, dá liberdade de escolha. Podemos dizer a mesma coisa de diferentes maneiras. A mais curta e enxuta ganha disparado. Fique com ela.