Quem diria, hein? Pôncio Pilatos condenou Cristo à morte há 2 mil anos. Mas continua vivinho da silva. O julgamento de Jesus ocorreu na época da Páscoa. Naqueles tempos idos e vividos, costumava-se libertar um preso. O magistrado romano deixou que o povão escolhesse quem ganharia a graça — JC ou Barrarás.
A multidão livrou o ladrão. Não satisfeita, vociferava contra Cristo. O juiz pegou água, lavou as mãos diante de todos e disse: “Estou inocente desse sangue. A responsabilidade é vossa”. Daí nasceu a expressão lavar as mãos. Ela quer dizer fugir da responsabilidade.
“Oba! Se ele pode, eu também posso”, festejou a língua portuguesa. Recorreu, então, a tempo verbal bem mineiro. Trata-se do futuro do pretérito (faria, teria, começaria). O pilatinho não afirma nem nega. Muito pelo contrário. A imprensa o adora. Pra informar os leitores sem comprometer-se, sem acusar nem inocentar, ele se presta como ninguém.
O noticiário dos últimos dias serve de prova. “Ele teria recebido dinheiro de caixa dois”, diz um dos tantos textos muristas. (Teria dá ideia de incerteza, dúvida, suposição.) Afinal, perguntam os impacientes, ele recebeu ou não o dinheiro? A resposta pode ser sim ou não. Com o futuro do pretérito, o autor não põe a mão no fogo. É diferente de escrever, por exemplo, “Ele recebeu dinheiro de caixa dois”. Aí se afirma. Se não for verdade, dá xilindró. Valha-nos, Deus!
Vem, fofoca
Você gosta de espalhar fofocas? Então não há tempo melhor. A gente espalha o veneno. Com o futuro do pretérito, tira o corpo fora como se não tivesse nada com os estragos: Maria estaria se encontrando com Paulo às escondidas. O malfeitor teria denunciado os mandantes. A polícia teria apanhado o ladrão.