Morava no palácio mais luxoso de Constantinopla. As porcelas da dinastia Ming despertavam admiração e cobiça até do sultão. Os cavalos árabes que lhe puxavam a carruagem usavam arreios de ouro. Os cocheiros eram altos, elegantes, altivos e belos.
Mulheres turcas, chinesas, russas, árabes, africanas, vietnamitas, índias, cariocas, francesas e tailandesas enfeitavam o harém mais exótico do mundo conhecido. Todas o amavam, disputavam-lhe a companhia sempre generosa.
Grande consumidor, o homem rico não acreditava no significado da palavra consumir. O dicionário diz que a palavra latina original, consumere, quer dizer gastar ou corroer até a destruição; devorar, extinguir, destruir. “Eu”, pensou ele, “sou a exceção que confirma a regra. Consumo e sou feliz.” Riu muito. Alegre e leve.
Um dia, o homem rico foi passear. Saiu a pé. Via as pessoas indo e vindo. Todas muito ocupadas na vidinha do dia-a-dia. Distraído, parou. Olhou para uma mulher que lhe chamou a atenção. Não pela graça ou beleza. Ao contrário. Pela feiúra e maus-tratos do destino. Feia como cão chupando manga.
“Que pode fazer uma mulher feia e pobre?” pensou. Naquele mundo turco, distante, o destino da mulher era o casamento. Sem beleza e sem dote, não atraía nem os apaixonados nem os interesseiros. Triste destino.
Tchan, tchan, tchan! O homem rico teve uma idéia. Daria dote a todas as mulheres feitas e pobres do reino. Resolveria o problema delas. Ou arranjavam marido, ou ficavam lindas. “Beleza”, pensou o homem rico, “é diretamente proporcional à conta bancária. Não existe mulher feia, existe mulher malcuidada.”
Pensou e fez. Uma das premiadas ficou tão bela que foi convidada para o harém. Suspirosa, coberta de sedas, rubis e diamantes, disse-lhe coleante: “Estou feliz de comungar essa riqueza com você”.
Os Estados Unidos viram o velhinho simpático em Amsterdã. Levaram-no para as terras da América. E espalharam-no pelo mundo.