A alma do negócio

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Roberto é publicitário. Tem olho clínico. Ao ler um texto, faz o diagnóstico. Diz se a peça está fadada ao sucesso ou ao fracasso. Acerta sempre. Outro dia, dava uma voltinha na feira de artesanatos. Uma faixa lhe chamou a atenção: “Aqui se vendem ovos de Páscoa frescos”.

Ao ler o anúncio, sentiu cócegas por todo o corpo. Não deu outra. Procurou o vendedor:

— Amigo, se você cortar algumas palavras do enunciado, suas vendas aumentarão.

— Como?

Aqui é desnecessário. Você não estaria com a faixa neste lugar e vendendo em outro.

— É verdade.

Vendem-se também sobra. Ninguém aluga ou doa ovos.

— É verdade.

Frescos tampouco tem função. Ninguém vende ovos velhos, estragados ou podres.

— Também é verdade. Mas me diga: por que as vendas aumentarão se ficarem só as palavra ovos de Páscoa?

— Ovos de Páscoa é a mensagem. Sem o inútil, você fica com o essencial. Escreva-o com letras bem grandes. Quem estiver lá longe, enxerga o texto. Não resiste. Vem correndo comprar a delícia.

Vende-se

A regra vale para pequenos anúncios. Não se perca em pormenores. Fique no essencial. Por isso, merece nota 10 o texto:

Vende-se Gol 95 ano 96. Tratar com João Alfredo no celular 9989-0000. Vende-se Gol 95 ano 96 vermelho, em bom estado, pouco rodado. Tratar com o proprietário, João Alfredo, que mora no Gama e tem o celular 9989-0000.

E daí?

Escolheu a letra a? Acertou. Ali está o essencial. Se o interessado quiser mais informações, sabe o caminho. Basta ligar para o celular. Fácil, não?