Os mandamentos dos espumantes – segundo Le Figaro, Hemingway e este sommelier
Lá por 2005, a crítica de gastronomia Luciana Froés, comentou sobre “Os novos modos do champanhe – os onze mandamentos do momento” publicados no Madame, suplemento feminino do jornal francês Le Figaro. Agora, revendo meus guardados encontrei a lista e resolvi revê-la e a apresentar aos meus leitores.
Primeiro vamos considerar que estas orientações valem para todos os espumantes e não apenas para o chanpagne.
Mas será que estes mandamentos ainda estão valendo? E quais poderíamos acrescentar ou suprimir?
1- DECANTAR – Não é crime. Desde que seja um vintage e procedido com a leveza “glissante” de uma dama ao sentar-se com graça em um evento de gala.
2- CURTIR A SÓS – Indicado para dias tristes. A gente desperta para a vida como uma arrancada de um carro.
3- GELE-O – Sem medo do paladar ou do olhar desaprovador do sommelier, como fez Hemingway. Gelar, sim; congelar, nunca.
4- PASSE PELO DEMI-SEC – Mas não o ignore. É uma questão de guardá-lo brevemente, para que a sua dimensão açucarada cuide do resto e reserve boas surpresas para o futuro próximo.
5- ANTECIPAR – Ao mesmo tempo em que abre o apetite, é leve e celebra os convivas.
6- LEVE-O À MESA – Se começou com ele, por que não continuar com ele? É um companheiro experiente, que viu lágrimas, alegrias, misérias e momentos fulgurantes. E sabe sentar-se à relva e, na companhia de um salame, manter a mesma majestade da companhia de ostras, peixes, queijos e sobremesas.
7- DEIXE-O EM SUA INOCÊNCIA – É um vinho à parte, à prova de experts, considerações e grandes análises, a não ser a de prová-lo, fechar os olhos e abri-los em outro universo.
8- ESQUEÇA TUDO – Esqueça as regras do vinho. O champanhe não as observa e até as contraria, por ter várias origens, por confundir suas pistas, por serem tão iguais, mas tão diferentes. É um vinho para a cabeça, que prefere sonhar em outros vinhedos.
9- LIBERTE-O – A vocação do champanhe é ser liberado para a vida. Não deixo de sentir compaixão pelos amadores que me exibem, orgulhosos, suas adegas de champanhe.
10- PELA BELEZA DO GESTO – O champanhe não é uma bebida de roqueiros. Não é coincidência, no entanto, que seja personagem de Flaubert, Maupassant ou Fitzgerald, ou que prefira a nobreza do salão ao agito urbano. É um vinho ereto e que conduz, naturalmente, o gesto elegante.
11- ASSUMA O LADO FEMININO – O champanhe nunca foi um vinho viril. Começa aí a sua ligação íntima com as mulheres, que entendem em sua companhia uma dose de magia, um breve de sonhos solúveis, um brilho de inteligência comunicativa e uma fonte de surpresas e momentos inesperados
Achei que todos estes mandamentos do Madame, do Le Figaro, continuam atuais, não suprimiria nenhum. A partir de agora apresento alguns novos mandamentos.
12- BRINDE SEM MOTIVO – Não espere conquistas, aniversários ou declarações. A leveza de um brinde fora de hora, com ou sem taça de cristal, brinde apenas ao momento.
13- PERMITA-SE EXPERIMENTAR – Brut, nature, Moscatel, blanc de noirs, rosé, sur lie, tinto, safrado ou não… esqueça os rótulos e beba com curiosidade. O espumante, como a alma humana, tem muitas facetas – todas legítimas.
14- MISTURE COM IRREVERÊNCIA – O espumante também aceita flertes. Que se junte ao bitter, ao suco fresco, ao licor ou ao gelo aromático. Que vire Bellini, Mimosa, Rossini, Spritz ou a invenção do momento. O importante é que borbulhe – e surpreenda. Porque há dias em que a sofisticação está na ousadia de misturar o que antes parecia intocável.
15- SIRVA-O EM QUALQUER COPO – Taças estreitas ou tulipas são bem-vindas, mas o champanhe não se ofende com copos baixos, antigos ou emprestados de outras bebidas. Ele respeita mais o espírito da ocasião do que a forma do cristal.
16- ACOMPANHE COM O QUE TIVER – Não se prenda às ostras, ao caviar e ao foie gras. Sirva com frango assado, batata frita, pipoca trufada ou pastel de feira. A nobreza do espumante reside em não se abalar com a quebra das regras de etiqueta.
17- BEBA DE MANHÃ – Acordar num domingo e brindar à luz suave do dia com uma taça gelada pode ser um manifesto silencioso contra a pressa do mundo. E ninguém mais precisa saber.
18- NÃO O GUARDE DEMAIS – Melhor é abrir uma garrafa comum num dia especial do que guardar uma garrafa especial para um dia tão especial que talvez nunca chegue.
19- COMPARTILHE COM OS ERRADOS – Não espere os entendidos. Abra com aquele que nunca provou, com a amiga do trabalho, com o vizinho curioso ou com você mesmo — ainda de pijama. O espumante ama surpresas mais do que rótulos.
20- ASSUMA O LADO MASCULINO – O espumante não exige força, exige presença, daí sua ligação intima também com os homens. É o vinho dos homens que sabem ouvir, dos que brindam com elegância. A taça elevada não é um troféu, mas sim um gesto de civilidade.
“Uma característica especial do champanhe é que sua elaboração só começa onde a de outros vinhos termina.” (Henry Vizetelly, historiador inglês do século XIX)
“Só as pessoas sem imaginação não conseguem encontrar um motivo para beber champanhe.” (Oscar Wilde, escritor irlandês do século XIX)



2 thoughts on “OS MANDAMENTOS DOS ESPUMANTES – SEGUNDO LE FIGARO, HEMINGWAY E ESTE SOMMELIER”
Olá, muito oportuna as inclusões, 👏
Obrigado