QUAL É A SUA HISTÓRIA SOBRE A COMIDA AFETIVA? – XVII – responde Mila Osório

Publicado em comidas afetivas

Qual é a sua história sobre comida afetiva? Aqueles pratos da sua infância que vinham da cozinha da sua mãe ou da sua avó. Pratos que são mais do que simples alimentos, que representam gestos de carinho, envolvem emoções, memórias e trazem um senso de pertencimento.

Qual é a sua “Madeleine de Proust”? Aquele sabor ou cheiro que o transporta para o passado, evocando memórias profundas e, muitas vezes, inesperadas.

Mila é portuguesa, tem 85 anos, mora em Fortaleza-CE , gosta de artesanato, idiomas, brincadeiras com os bisnetos, leituras, cinema e mar. Qualidade de vida é a cara dela.

UMA CASA PORTUGUESA

Na minha infância adorava almoçar na casa dos meus avós maternos, dia de domingo. O cardápio era sempre COZIDO À PORTUGUESA. Quando penso nesse Cozido, sinto o cheiro das carnes na imensa panela de ferro, fervendo no fogão a lenha. A seguir, na mesma água, eram cozidos vários legumes. A cozinha era grande com uma mesa no meio, bancos em volta, piso de lajota mosaico, louças muito areadas penduradas nas paredes. Uma casa de bairro, na cidade do Porto, em Portugal.

Sempre consigo rever aquela imensa travessa de esmalte azul, onde eram arrumados os ingredientes: carne de vaca, frango, bacon, paio, pé de porco e orelha. Do lado ficavam os legumes, tudo fumegando… O arroz ia para a mesa num alguidar de barro, cozinhado no caldo liberado das primeiras lidas, coberto com paio, cortado em rodelas.

Sentado na cabeceira da mesa, meu avô fazia os pratos, um por um, ia passando à minha avozinha que servia o arroz. O meu prato era sempre o mais bonito. Ainda no tempo da minha mãe viva, era escolhido para mim o melhor pedaço de carne, distribuídos em volta os legumes cor a cor, num desenho colorido. O rádio tocava música romântica. Francisco José, Amália Rodrigues menina, marchinhas brasileiras. Como no fado canção, do jardim vinha um cheirinho de alecrim…

Para sobremesa havia figos com nozes, ameixas secas, compotas e geleias de marmelo feitas em casa, marmelada feita em casa também. As compotas eram elaboradas na época de cada fruta e guardadas para o inverno. Meu avô gostava de vinho tinto de garrafão tirado da pipa, servido em jarras brancas de porcelana. As crianças tomavam groselha.

Depois da minha mãe partir, morando com a família paterna, os domingos dos avós maternos continuaram com o mesmo ritual. Agora tudo passou.

Domingos de eterna saudade!

 

RECEITA DO COZIDO À PORTUGUESA

Ingredientes:

Músculo, Osso Buco ou outra, semelhante;

Paio, chouriço, bacon, toucinho, pé de porco, orelha;

Frango ( pedaços com osso);

Legumes variados: acelga, repolho, batata inglesa, batata doce, abóbora, chuchu, cenoura.

(Quantidades conforme a quantidade de pessoas ao almoço)

Modo de Fazer

Cozinha-se primeiro as carnes, acrescenta-se os legumes e separa-se o caldo para o arroz, refogado em alho e cebola e cozido no caldo reservado, em outra panela.

 

DICA DO SOMMELIER: Em homenagem à cidade do Porto, onde nasceu a Mila, sugiro, para harmonizar com o cozido, vinhos tintos do Douro, região do mesmo rio que banha o Porto, que possuem estrutura e acidez suficiente para este prato. Para acompanhar as sobremesas os vinhos do Porto Ruby ou Tawny, dos mais simples cuja doçura seja igual ou superior à dos doces.

 

 

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